Pensata

Gilberto Dimenstein

18/06/2008

Sindicato quer motel em escola

O sindicato dos professores de São Paulo decidiu decretar uma greve para evitar que se implementem medidas destinadas a reduzir a rotatividade dos docentes nas escolas públicas --uma das pragas, entre tantas, que explicam a péssima qualidade de ensino. É um caso explícito de greve contra o pobre.

É impossível oferecer aos mais pobres boa educação com tanta rotatividade de professores e diretores. Tal rotatividade destruiria rapidamente até mesmo as empresas mais eficientes. Há casos, neste ano, de escolas que tiveram até cinco diretores.

Como o aluno pode respeitar uma escola em que tantos professores mudam --e, pior, tantos professores faltam às aulas?

A culpa da péssima qualidade de ensino não é, claro, só do professor. O sindicato faz muito bem em lutar por melhores salários e melhores instalações físicas. Faz bem em criticar a interrupção dos planos, num vai-e-vem deletério de políticas públicas. O professor é, em muitos aspectos, uma vítima --a começar da violência que sofre nas escolas e das salas superlotadas.

Mas a corporação atenta contra o pobre quando se insurge contra medidas óbvias, elementares, para que as escolas não pareçam um motel.

Curioso é que os líderes dos trabalhadores, cujos filhos estão em escolas públicas, transformadas em motel, não se indignam com o que fazem com seus filhos.

Gilberto Dimenstein é membro do Conselho Editorial da Folha e criador da ONG Cidade Escola Aprendiz. Coordena o site de jornalismo comunitário da Folha. Escreve para a Folha Online às segundas-feiras.

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