Pensata

Gilberto Dimenstein

10/06/2009

O ex-traficante que acabou na USP

Pelo relatório que acaba de ser divulgado pelo Unicef, Marcos Lopes tinha o perfil perfeito para ficar fora da escola e, mais do que isso, estar preso ou morto: negro, favelado, morador de uma região violenta, ex-assaltante e ex-traficante de droga. Era improvável que acabasse escritor e frequentando a USP. Trechos de seu livro estão no site Catraca Livre.

A maioria dos jovens, mesmo sem entrada no crime, tem dificuldades para concluir o ensino médio, como enfatizou o relatório. E, aqui, está a combinação mais explosiva do país: jovens desocupados e sem qualificação vivendo nas grandes cidades, onde o crime arregimenta sua mão de obra.

Com a ajuda de uma entidade não-governamental (Casa do Zezinho), Marcos voltou a estudar, fez faculdade e começou a dar aulas na escola da qual foi expulso por assaltar a cantina e botar fogo.

Como se especializou em intermediação de conflitos para evitar violência, Marcos foi aceito num curso, dentro do campus da USP, de engenharia comunitária, oferecido pela Fundação Vanzolini, ligada à Poli. "Quero replicar depois esse modelo de curso", afirma.

A tragédia do ensino médio no Brasil (e da educação pública em geral) faz de Marcos, que da boca do fumo virou professor e estuda na USP, um belo exemplo, mas uma exceção das exceções e mostra o longo caminho que temos pela frente para ser uma nação civilizada.

Gilberto Dimenstein é membro do Conselho Editorial da Folha e criador da ONG Cidade Escola Aprendiz. Coordena o site de jornalismo comunitário da Folha. Escreve para a Folha Online às segundas-feiras.

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