Pensata

Gilberto Dimenstein

23/01/2010

Muito pior do que enchente

Cerca de 40% dos professores temporários da rede pública de São Paulo não passaram no teste de conhecimento. O resultado só não foi pior porque parte da nota é composta por tempo de serviço.

Mesmo assim --e por falta de alternativa-- muitos deles vão dar aulas. Essa notícia é pior (muito pior, diga-se) do que enchente. As enchentes vão e voltam, mas o professor sem capacitação fica, causando danos diários.

Não poderia deixar de reconhecer que merece apoio a decisão do governo estadual de fazer a prova, enfrentando o corporativismo. Até compreendo o anúncio de que os professores reprovados vão continuar dando aula --é isso ou nada. Melhor isso.

A prova toca na questão mais grave do país. Não há pais civilizado sem boa educação --e não há boa educação sem bom professor.

Poucas coisas são mais relevantes do que tentar atrair talentos para dar aula nas escolas públicas, valorizando o papel do professor, com melhores salários e condições de trabalho.

Se a população visse na péssima qualidade da educação uma enchente diária, causando danos por todos os lados (e, pior, na cabeça das crianças), haveria uma revolta permanente.

Gilberto Dimenstein é membro do Conselho Editorial da Folha e criador da ONG Cidade Escola Aprendiz. Coordena o site de jornalismo comunitário da Folha. Escreve para a Folha Online às segundas-feiras.

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