O
que estraga a modernidade inaugurada no Brasil por Fernando Henrique
Cardoso é a má vontade dos pobres com o governo. É
revoltante a resistência dessa gente em se adaptar aos novos
tempos. Continuam se reproduzindo de modo desenfreado, entulhando
o país de seres obsoletos. Agem como se ainda tivessem alguma
utilidade. O pior é que conservam a velha e anacrônica
mania de sonhar com três refeições ao dia. Um
acinte.
O tucanato
já tem um plano para corrigir o disparate. Deu na Folha
de domingo. Reportagem de Marta Salomon revelou que Brasília
planeja eliminar o programa de distribuição de cestas
básicas a famílias pobres. Quem não leu deveria
ler . A intenção por trás do gesto é
diabolicamente engenhosa.
Vai-se
combater o pobre de um jeito infalível, atacando-o pelo estômago.
Muitos têm nas cestas de dona Ruth o último fiapo que
os mantém atracados a este mundo. Sem comida, afundam. Vão
para debaixo da terra mais rapidamente, clareando as estatísticas
do IBGE.
De
quebra, o governo irá economizar R$ 489 milhões. É
quanto teria de gastar se mantivesse a distribuição
de cestas de alimentos até 2003, como previsto inicialmente.
O que
não falta à volta de FHC é gente com boas idéias
para gastar o dinheiro do contribuinte. Na dúvida, basta
entregar a sobra das cestas à $udam. Ajudaria a viabilizar
o projeto Usimar, revelado também na Folha
de domingo .
O governo
se comprometeu a entregar aos donos da Usimar R$ 690 milhões
em dois anos. Novesfora os R$ 44 milhões que já deixaram
as arcas do Tesouro em direção ao projeto, aproveitando-se
os R$ 489 milhões das cestas da fome, faltariam apenas R$
57 milhões. Cortando-se mais um ou dois projetinhos de cunho
social, chega-se a esse montante com facilidade.
Bem
verdade que o projeto Usimar é inviável. Seus proprietários
não apresentaram garantias financeiras. Mas isso não
é coisa que tire o sono dos gestores da $udam. O importante
é manter em movimento o moinho do incentivo fi$cal, que irriga
a horta dos partido$ aliado$.
Se
tudo der certo, antes do término deste seu segundo mandato
FHC estará comemorando o fim da exclusão social, sob
aplausos da ba$e política que $u$tenta o seu governo. Há
um inconveniente. Junto com os pobres, morrerão os bons sentimentos.
Mas quem se importa?
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colunas anteriores
21/11/2000 - Brasília, finalmente, treme
14/11/2000 - FHC engole elefante
07/11/2000 - Bush ou Gore?
31/10/2000 - A sinuca de sempre
24/10/2000 - Como uma montadora pode
virar sinônimo de causa-mortis
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