Pensata

Kennedy Alencar

19/10/2007

A encruzilhada de Renan

Com perdão do lugar-comum, o senador Renan Calheiros (PMDB-AL) está numa encruzilhada. Tem três caminhos a escolher, mas ainda não está claro por qual deles seguirá.

Depois de resistir 150 dias e de negar a possibilidade de licença, Renan se licenciou do Senado. Viu ruir o apoio político no PMDB e no PT. E entendeu que seria apontado pelo governo e oposição como o responsável pelo eventual fracasso da aprovação da emenda constitucional que prorroga até 2011 a CPMF, o chamado imposto do cheque.

O realismo político o levou à licença. Renan decidiu devolver a bola da CPMF à oposição e ao governo. Se a emenda não for aprovada, essa conta não lhe será cobrada. Na próxima semana, Renan pretende voltar ao plenário como senador comum, apertar o botão das votações e ajudar o governo nas articulações para prorrogar o imposto do cheque.

Lula registrou positivamente o gesto de Renan. O peemedebista recebeu recado do governo de que a licença contribuiu para melhorar a perspectiva de aprovação da CPMF e que isso não será esquecido.

Nesse cenário, é sensato esperar que, ao final dos atuais 45 dias de licença, Renan tire outros 45 dias. Assim, daria tempo para a tramitação da emenda da CPMF chegar ao final.

Muita gente no governo e no Senado acredita que, aprovado o imposto do cheque, Renan voltará se sentar na cadeira de presidente preparado para nova ofensiva política desde que obtenha sinal verde de Lula. Este é um dos caminhos de sua encruzilhada.

O outro é o da volta a Alagoas. Traduzindo: negociar um acordo que evite a sua cassação em troca de não retornar à presidência do Senado. Nessa hipótese, renunciaria à presidência e ficaria na planície política do Senado. Cumpriria seu mandato até 2010, quando acabará o atual mandato de oito anos, e avaliaria a conveniência de um projeto regional.

Assim, tentaria preservar a força do clã Calheiros em seu Estado. Abriria mão da cena política nacional. Seria uma espécie de saída "José Roberto Arruda", senador que renunciou ao mandato no escândalo da violação do Painel do Senado e que hoje reconstruiu sua carreira como governador do Distrito Federal. A saída "Arruda" é outro caminho.

O terceiro e último caminho da encruzilhada é voltar ao confronto político. Neste momento, Renan tem investido na distensão. Fez um gesto para apaziguar ânimos no Senado. Se todas as portas da salvação lhe forem fechadas, cogita reassumir a cadeira de presidente da Casa e enfrentar com mais ousadia a oposição e a imprensa. Nesse cenário, que não é o desejado por Renan, o peemedebista não morreria politicamente sozinho.

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Palavras duras

Na noite de quarta-feira, 10 de outubro, Renan ouviu do deputado federal Jader Barbalho (PMDB-PA) que se transformara num "estorvo" para todo mundo --governo, Lula, PT, PMDB e oposição. Jader o aconselhou a se salvar enquanto podia. Essas palavras influenciaram bastante a sua decisão de se licenciar da presidência do Senado.

Jader, que viveu processo parecido em 2001, tem sido um dos principais conselheiros de Renan.

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Fel

Aliados de Renan dizem que ele acha que Lula lhe hipotecou o apoio possível e até impossível em alguns momentos. É grato ao presidente. O mesmo não se aplica a outros integrantes do governo.

Um Renan disposto a atirar pesado politicamente miraria em alvos da oposição e do PMDB. Sobrariam ainda petardos para Aloizio Mercadante (PT-SP).

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Reclusão brasiliense

Renan não foi ao Senado nesta semana para evitar tumultuar a retomada da agenda legislativa que estava parada. Telefonou para senadores de todos os partidos. E, por ora, não cogita deixa a residência oficial do Senado --acredita que passaria a idéia de que entregou todos os pontos.

Kennedy Alencar colunista da Folha Online e repórter especial da Folha em Brasília. Escreve para Pensata às sextas e para a coluna Brasília Online, sobre bastidores do poder, aos domingos. É comentarista do telejornal "RedeTVNews", de segunda a sábado às 21h10, e apresentador do programa de entrevistas "É Notícia", aos domingos à meia-noite.

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