Pensata

Kennedy Alencar

26/10/2007

Diálogo PT-PSDB faz bem ao Brasil

É uma boa notícia para o país o diálogo entre o PT e o PSDB para aprovar no Senado a PEC (Proposta de Emenda Constitucional) que prorroga a CPMF até 2011. Essas duas forças partidárias têm polarizado as disputas presidenciais desde 1994. Sem demérito de outros partidos, PT e PSDB possuem os melhores quadros da atual geração de políticos. No poder federal, adotaram receitas de governo com mais semelhanças do que diferenças.

No entanto, há muita gente contrariada com esse diálogo, inclusive em alas do petismo e do tucanato. Por quê? Porque o fracasso desse entendimento interessa a projetos políticos pessoais e a forças fisiológicas que perdem cacife no Congresso quando petistas e tucanos decidem conversar sobre assuntos de interesse do país.

O tipo de negociação entre o governo Luiz Inácio Lula da Silva e a cúpula tucana não tem nada de ilegítimo e imoral. Difere muito do tradicional balcão de negócios do Executivo para cooptar apoios no varejo do Congresso. Como disse com propriedade o governador de Minas, o tucano Aécio Neves, uma negociação com "transparência" entre PT e PSDB faz bem ao Brasil.

A ida de senadores tucanos ao gabinete do ministro Guido Mantega (Fazenda) à luz do dia qualifica o debate público. Não importa que a lista de reivindicação do PSDB para apoiar a prorrogação do imposto do cheque contenha pontos algo contraditórios. Exemplo: pede aumento de recursos para a área da saúde, mas também redução de gastos correntes.

Gastos correntes são as despesas de manutenção da máquina pública. Há uma espécie de demonização desinformada a respeito desse tipo de gasto. A verba pública que mantém um hospital é gasto corrente. A verba que constrói um hospital novo, investimento.

É possível, sim, elevar gastos na saúde e reduzir despesas de custeio. Mas é preciso separar o joio do trigo. É preciso qualificar a discussão pública, algo que anda meio fora de moda no Brasil.

O PT errou ao fazer uma oposição sistemática ao governo do tucano Fernando Henrique Cardoso (1995-2002). Erram os setores do PSDB derrotados nas 2006 que desejam se abraçar ao DEM para fazer oposição ao antigo estilo petista. É pouco elaborado o argumento de que o PSDB deve ser irredutível com Lula por uma questão de coerência, como se um erro justificasse o outro, e a política se resumisse a uma contenda infantil e não fosse uma atividade cujo fim é melhorar a vida das pessoas.

O Brasil não se transformou na oitava maravilha, mas melhorou nos governos tucano e petista. Se o PT tivesse tido outra atitude em relação a FHC, o país teria avançado muito mais no período presidencial do tucano. A prorrogação do imposto do cheque até 2011 interessa a governadores do PSDB que lidam com problemas da vida real. A prorrogação da CPMF, no atual quadro fiscal brasileiro, é fundamental para a União fechar as suas contas.

Uma oposição sistemática não parece ser o caminho que levará os tucanos de volta ao Palácio do Planalto. Aécio e seu colega de São Paulo, o governador José Serra, já entenderam que a radicalização seria um equívoco eleitoral e administrativo. Ao bancar a decisão de o PSDB conversar com Lula sobre a CPMF, o que lhez traz custo político, os dois se credenciam ainda mais como presidenciáveis e políticos sérios.

Tomara que o atual diálogo PT-PSDB resulte numa distensão que permita um ambiente mais construtivo na política brasileira daqui em diante. Um ambiente assim traria benefícios não só ao próximo presidente, mas principalmente ao país.

*

Até a volta

Devo me ausentar deste espaço pelas próximas duas semanas.

Kennedy Alencar colunista da Folha Online e repórter especial da Folha em Brasília. Escreve para Pensata às sextas e para a coluna Brasília Online, sobre bastidores do poder, aos domingos. É comentarista do telejornal "RedeTVNews", de segunda a sábado às 21h10, e apresentador do programa de entrevistas "É Notícia", aos domingos à meia-noite.

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