Pensata

Kennedy Alencar

11/01/2008

Nova tele é aposta de Lula

Sem o aval político e econômico do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a Oi (ex-Telemar) não poderia comprar a BrT (Brasil Telecom). Lula mudará a legislação do setor para permitir que uma tele compre a outra. No governo, trata-se o negócio como uma fusão e não uma venda.

Resultado de venda ou fusão, a nova tele será uma das maiores empresas do Brasil. Seus executivos disseram a Lula que, no prazo de 24 meses, a nova companhia deverá faturar R$ 12 bilhões por ano --poder de fogo de sobra para competir nacionalmente com a Embratel e a Telefônica. A empresa poderia até disputar mercado com essas duas empresas na América do Sul.

No governo, Lula se encantou com grandes empresários, como Jorge Gerdau. Acredita que estimular o nascimento de grandes empresas nacionais que possam competir globalmente é uma das tarefas dos presidentes das democracias modernas.

Para convencer os fundos de pensão de estatais a participar do negócio, Lula condicionou a alteração da legislação a uma fórmula jurídica que dê aos fundos de pensão e ao BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) poder de veto sobre eventual venda da nova tele. O objetivo, diz um integrante da cúpula do governo e um dos envolvidos na negociação, é evitar que a operação seja apenas uma jogada comercial de curto prazo e não um investimento para consolidar uma terceira grande tele no país. O negócio entre a Oi e a BrT deverá ser fechado oficialmente em 15 dias no valor de R$ 4,8 bilhões.

Auxiliares do presidente falam que haverá "travas" para que Lula aceite editar um decreto alterando o Plano Geral de Outorgas, que hoje proíbe uma empresa fixa de adquirir outra do mesmo setor. O negócio deverá ter uma cláusula para que os principais acionistas concordem com eventual venda da futura empresa.

Considerado por Lula um dos principais formuladores dos chamados "desenvolvimentistas", o economista Luciano Coutinho, presidente do BNDES, foi incumbido de acompanhar os detalhes da negociação entre a Oi e a Brasil Telecom. O BNDES terá participação na nova companhia e lhe emprestará recursos.

Lula, portanto, faz uma aposta de alto risco. Se der certo, o que significaria maior competição nos mercados de telefonia fixa, móvel e transmissão de dados, a nova tele trará benefícios ao consumidor e ao mercado de trabalho. Se o empreendimento se traduzir num fracasso, o presidente será cobrado por ter mudado a lei a fim de favorecer grupos privados.

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O preço do poder

Entre quatro paredes, Lula pode espernear à vontade, como fez na manhã desta sexta (11/01). Como pai, pode achar injusta a suspeita de que a sociedade da Oi com a empresa de um de seus filhos tenha facilitado a decisão política de viabilizar uma nova tele. Como pai e presidente, pode alegar que há razões empresariais que justificam a negociação entre a Oi e a Brasil Telecom.

Como presidente, porém, deve dar explicações sobre críticas e suspeitas. Nos anúncios de emprego para presidente da República, publicados em outubro de 2002 e de 2006, havia três requisitos escritos lá: aceitar críticas justas e injustas, dar satisfações ao público e se comportar como a mulher de César. Lula se apresentou e obteve o emprego.

Kennedy Alencar colunista da Folha Online e repórter especial da Folha em Brasília. Escreve para Pensata às sextas e para a coluna Brasília Online, sobre bastidores do poder, aos domingos. É comentarista do telejornal "RedeTVNews", de segunda a sábado às 21h10, e apresentador do programa de entrevistas "É Notícia", aos domingos à meia-noite.

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