Pensata

Kennedy Alencar

19/02/2008

Lula estimulará corrida econômica a Cuba

Ao chegar da viagem que fez a Cuba em janeiro, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse em conversas reservadas que tinha a impressão de que Fidel Castro não voltaria mais ao poder central na ilha caribenha. O líder cubano contou ao petista que a mente ainda estava boa, mas que o corpo fraquejava demais aos 81 anos.

Fidel não fez uma confissão direta, mas deixou claro que seu tempo de todo-poderoso havia acabado. Será agora uma espécie de grande conselheiro do país, papel que já vem cumprindo com seus artigos no "Granma", o diário oficial da ditadura cubana.

Lula e Fidel são amigos faz tempo, desde os anos 80. O cubano foi um dos poucos dirigentes internacionais que visitaram um petista abatido após as derrotas nas eleições presidenciais de 1989 e 1994. A relação entre os dois é fraterna --apesar de algumas arestas nos últimos anos, reforçadas pela aproximação de Fidel com o venezuelano Hugo Chávez e pela moderação do petista em relação a George Bush.

Para Lula, o governo brasileiro terá força política para vitaminar projetos brasileiros na ilha. O presidente sonha com uma parceria para que a ilha, próxima dos EUA, funcione como uma plataforma avançada de exportação cubano-brasileira para a maior economia do mundo.

Na conversa em Havana, Fidel pediu ajuda do brasileiro para estimular investimentos privados de empreendedores brasileiros no seu país. No Brasil, Lula contou a auxiliares que os empresários brasileiros deveriam se preparar para uma espécie de corrida a Cuba. Disse que se empenharia pessoalmente para acelerar projetos nesse sentido.

O petista ficou com a impressão de que Raul Castro, irmão de Fidel, consolidou sua liderança. Se Lula acredita que será rápida a transição para uma economia mais aberta, o petista também crê que haverá distensão política. Obviamente, a abertura política deverá seguir um ritmo mais lento do que o econômico, em curso faz algum tempo.

No entanto, há na cúpula do governo descrença quanto à previsão de que Cuba seguirá literalmente o modelo chinês, muito fechado politicamente. Na opinião do presidente, o ingrediente latino deverá dar um ritmo mais acelerado ao tempo de mudanças.

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Estado de saúde

Em 5 de agosto de 2006, a versão impressa da Folha publicou que autoridades cubanas transmitiram a Lula e a dirigentes graduados do PT a informação de que o estado de saúde de Fidel Castro, então submetido a uma recente cirurgia, era pior do que admitia publicamente o regime.

Essas autoridades disseram ao governo brasileiro que o ditador poderia ficar inabilitado para retomar o poder real, ainda que se recuperasse da doença --um tumor maligno no abdômen, segundo a versão que chegou ao governo brasileiro.

Oficialmente, Cuba sempre negou a hipótese de tumor. Um médico espanhol foi chamado para corrigir seqüelas da cirurgia no abdômen e reforçou a versão oficial. Mas integrantes do PT com trânsito livre na cúpula do governo cubano sustentam que a primeira informação que receberam reservadamente estava correta.

Kennedy Alencar colunista da Folha Online e repórter especial da Folha em Brasília. Escreve para Pensata às sextas e para a coluna Brasília Online, sobre bastidores do poder, aos domingos. É comentarista do telejornal "RedeTVNews", de segunda a sábado às 21h10, e apresentador do programa de entrevistas "É Notícia", aos domingos à meia-noite.

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