Pensata

Kennedy Alencar

28/03/2008

Dilmagate

Um traço constante do governo Luiz Inácio Lula da Silva tem sido a sua enorme capacidade de tropeçar nas próprias pernas. Possuem DNA petista os fios que detonaram os mais graves casos de corrupção e escândalos políticos desde que o PT chegou ao poder central.

Quando tudo vai bem para Lula, com notícias seguidas de popularidade alta, a oposição precisa apenas esperar que alguém do governo ou do PT resolva dar um tiro no pé. Foi assim com Waldomiro Diniz, José Dirceu, Antonio Palocci, Delúbio Soares...

Agora, o problema apareceu na Casa Civil da poderosa Dilma Rousseff. Por ora, estacionado na secretaria executiva, ocupada por Erenice Guerra, a número 2 de Dilma.

Por mais que o governo negue que tenha feito um dossiê contra adversários, não dá mais para acreditar nisso. É fato que informações secretas sobre o governo FHC foram devidamente documentadas por ordem de pessoa próxima à ministra da Casa Civil. A papelada detalha despesas da ex-primeira-dama Ruth Cardoso e do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.

Ora, a semelhança com o caseirogate é evidente. O poderoso Antonio Palocci Filho caiu do Ministério da Fazenda em março de 2006 porque houve o vazamento do sigilo bancário do caseiro Francenildo Costa. Palocci nega até hoje participação no vazamento,

O Palácio do Planalto montou operação para blindar Dilma. Evitou sua convocação para depor na CPI dos Cartões Corporativos enquanto escalou o ministro José Múcio (Relações Institucionais) para dizer que a ministra era "inocente" e que não tinha "nada a ver com isso". Por ora, a ação e o discurso do governo são de preservação de Dilma.

No entanto, quem não se lembra das versões que davam conta de que Dirceu era poderoso demais para ser abandonado por Lula ou de que Palocci seria indispensável para evitar uma catástrofe econômica? Certa inabilidade para lidar com o poder e uma dose de arrogância contribuíram para minar os dois políticos.

Até o "Dilmagate", como a oposição já apelidou o atual imbróglio, ela era a principal aposta de Lula para ser candidata a presidente em 2010.

Nos próximos capítulos, veremos qual será o destino da ministra: o mesmo dos poderosos que deixaram o governo ou a exceção que escapará a uma regra que Lula adotou para sobreviver politicamente?

Há um destino intermediário. Permanecer enfraquecida no governo, exatamente o que aconteceu com José Dirceu após o escândalo Waldomiro Diniz.

*

Assim falou Lula

Trecho da entrevista de Lula a este jornalista, publicada pela Folha em 14 de outubro passado:

FOLHA - Quais são as diferenças entre o presidente de 2003 e o presidente de 2007? Mais solitário?
LULA - Não existe possibilidade de um presidente estar sozinho. Sou um homem hoje muito mais maduro, muito mais consciente, muito mais determinado e compreendedor das coisas que temos de fazer.

Nós queríamos lançar o PAC [Programa de Aceleração do Crescimento] em outubro do ano passado, mas tomei a decisão de não lançar porque não queria confundir o PAC com a questão eleitoral. Tinha consciência de que ganharia as eleições sem o PAC.

FOLHA - Voltando às diferenças, não há mais um czar na política, que era o José Dirceu, e um czar na economia, que era o Antonio Palocci.
LULA - Vocês [imprensa] gostam de criar essas coisas.

FOLHA - Não era real?
LULA - Lógico que não era real. Fico vendo as pessoas dizerem: 'Tal é ministro forte'. Ministro forte cai. Quem é forte no regime presidencialista é o presidente. Não existe ministro forte.

Kennedy Alencar colunista da Folha Online e repórter especial da Folha em Brasília. Escreve para Pensata às sextas e para a coluna Brasília Online, sobre bastidores do poder, aos domingos. É comentarista do telejornal "RedeTVNews", de segunda a sábado às 21h10, e apresentador do programa de entrevistas "É Notícia", aos domingos à meia-noite.

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