Pensata

Kennedy Alencar

27/06/2008

Lula fez a coisa certa

É fato que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva elevou muito os gastos públicos no segundo mandato. Seria uma decisão acertada apertar os cintos e aumentar ainda mais o superávit primário --a economia de todo o poder público para pagar a sua dívida.

Lula já aumentou a meta de superávit de 3,8% para 4,3% do PIB (Produto Interno Bruto, a soma de todas as riquezas produzidas em um ano no país). Com arrecadação de tributos em alta, o presidente poderia economizar mais. Quem sabe uns 5% do PIB. Nos bastidores, já autorizou uma meta de 4,5% de superávit.

O governo petista tem atuado com responsabilidade fiscal no atacado. Peca aqui e ali no varejo, mas tem mais créditos nessa área do que outros governos.

Esses três parágrafos foram para registrar algo merecido e reforçar a avaliação de que Lula acertou ao dar um novo reajuste ao Bolsa Família, o principal programa social. O presidente foi até modesto. Decidira no final do mês passado dar um reajuste de 10%, mas o reduziu para 8% a fim de não contribuir para acelerar ainda mais a inflação.

O presidente cedeu a um apelo técnico: quando institui uma correção monetária alta e freqüente, o governo contribui para a corrida dos preços. Um reajuste puxa o outro. Daqui a pouco, todo mundo vai querer reajustar tudo em 10%. E aí vem a inflação e come o valor real do benefício social, do salário do trabalhador e do lucro do empreendedor.

Lula decidiu dar o reajuste ao Bolsa Família a fim de proteger os mais fracos. O impacto da decisão será de cerca de R$ 800 milhões por ano. É muito pouco quando o Banco Central já aumenta a taxa de juros real mais alta do planeta para combater a inflação. Juros mais altos significarão mais dívida pública a ser paga. Mas essa conta é dividida com toda a sociedade.

Ao conceder um reajuste de 8% ao Bolsa Família, Lula não toma nenhuma decisão revolucionária, mas protege quem mais precisa de proteção: 11 milhões de famílias com renda mensal per capita de até R$ 50.

Lula fez a coisa certa.

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Pisou na bola

Se acertou no Bolsa Família, Lula errou ao defender o envio ao Congresso de um projeto de aposentadorias especiais para os craques da Seleção Brasileira que ganharam a Copa de 1958 na Suécia.

Esses craques merecem todo o respeito. Mas é um erro propor que o poder público lhes dê uma aposentadoria especial porque alguns estão passando aperto. Ora, muita gente dessa geração também passa aperto.

Ruim socializar essa conta, por menor que ela seja para os cofres públicos. É um precedente que lembra os velhos privilégios do "Estado papai". Correto seria passar a conta para a CBF (Confederação Brasileira de Futebol), entidade de direito privado que ganha uma bolada da Nike. O senhor Ricardo Teixeira poderia pagar essa conta.

Kennedy Alencar colunista da Folha Online e repórter especial da Folha em Brasília. Escreve para Pensata às sextas e para a coluna Brasília Online, sobre bastidores do poder, aos domingos. É comentarista do telejornal "RedeTVNews", de segunda a sábado às 21h10, e apresentador do programa de entrevistas "É Notícia", aos domingos à meia-noite.

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