Pensata

Kennedy Alencar

18/07/2008

O delegado, o banqueiro e o presidente

A fragilidade do delegado federal Protógenes Queiroz foi a incompreensão a respeito do papel da imprensa. Misturou alhos com bugalhos. Confundiu jornalismo sério com imprensa marrom.

O primeiro busca antecipar notícias, entender os bastidores e fiscalizar o poder. O segundo dá "furos" teleguiados por fontes interessadas em arrancar benefícios do poder. Simula bastidores. E confunde leviandade e grosseria com espírito crítico.

Um pena. O delegado abriu um flanco desnecessário. A imprensa marrom está em polvorosa.

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Veto providencial

O banqueiro Daniel Dantas se aproximou de muita gente no PT por uma razão simples: não conseguiu chegar ao presidente da República, ao contrário do governo tucano. Isso é um fato. Em conversas reservadas recentes, Lula agradece os alertas que Luiz Gushiken lhe fez na campanha de 2002 e no primeiro mandato a respeito dos objetivos e métodos de Dantas.

A briga que Gushiken comprou com Dantas incomodou muita gente no governo. Inclusive Lula, gerando torpedos da mídia teleguiados pelo banqueiro do Opportunity. Mas foi graças a Gushiken que Daniel Dantas não conseguiu se sentar à mesa com Lula como fazem Emílio Odebrecht e Jorge Gerdau. Para usar uma imagem ao gosto do PT pré-Marcos Valério, o proletário presidente preferiu tratar com a burguesia de verdade.

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Trapalhada federal

São sinceras as críticas reservadas de Lula a excessos e abusos da PF (Polícia Federal). É o que o presidente pensa mesmo. Exemplo: não gostou do vazamento que permitiu a filmagem do ex-prefeito Celso Pitta de pijama.

Lula não viu nada desabonador contra Gilberto Carvalho no grampo em que o chefe-de-gabinete fala com o ex-deputado federal Luiz Eduardo Greenhalgh, então advogado de Dantas. É o que o presidente pensa mesmo. Mas pediu a Carvalho que seja mais cuidadoso nas audiências e telefonemas.

O saldo geral da Operação Satiagraha é considerado positivo por Lula. É o que o presidente pensa mesmo.

No entanto, o desastrado episódio de afastamento do delegado Queiroz levou para dentro do Palácio do Planalto um problemão. Mais um vez, o governo tropeça nas próprias pernas. O ministro Tarso Genro (Justiça) e o diretor-geral da PF, Luiz Fernando Corrêa, fizeram Lula sentir saudade dos antecessores de ambos --respectivamente, Márcio Thomaz Bastos e Paulo Lacerda.

Lula ficou mal na fita ao atacar o delegado, que foi, sim, pressionado pela cúpula da PF.

Kennedy Alencar colunista da Folha Online e repórter especial da Folha em Brasília. Escreve para Pensata às sextas e para a coluna Brasília Online, sobre bastidores do poder, aos domingos. É comentarista do telejornal "RedeTVNews", de segunda a sábado às 21h10, e apresentador do programa de entrevistas "É Notícia", aos domingos à meia-noite.

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