Pensata

Kennedy Alencar

31/10/2008

O fator Aécio e cenários para 2010

O governador Aécio Neves (PSDB), tem razão quando fala que a sucessão presidencial de 2010 passará por Minas Gerais. O Estado tem o segundo maior colégio eleitoral do país. Uma articulação presidencial para ter chance de êxito precisa levar isso em conta.

Em 2002, Luiz Inácio Lula da Silva, um pernambucano que fez carreira política em São Paulo, foi buscar seu vice em Minas. José Alencar já era um grande empresário, o que ajudou a combater resistências ao PT.

Aécio acabou de passar um sufoco político na eleição para a Prefeitura de Belo Horizonte. Fez uma aliança com o PT do prefeito de Belo Horizonte, Fernando Pimentel, surpreendendo o Brasil inteiro. Era uma articulação para mostrar capacidade de conciliação e obter uma vitória arrasadora.

Mas o PMDB não entrou no barco, o vice Alencar ficou chateado, e muitos petistas torceram o nariz. A idéia era ganhar de lavada no primeiro turno, mas o candidato da dupla Aécio-Pimentel, o empresário Márcio Lacerda (PSB), chegou a dar a eleição como praticamente perdida no segundo turno. A virada se deveu mais à tremenda fragilidade do opositor, um personagem criado pelo deputado federal Leonardo Quintão (PMDB), do que à estratégia de conciliação nacional.

O aperto de Aécio deu brilho à vitória do governador de São Paulo, o tucano José Serra (PSDB-SP). A reeleição do prefeito paulistano, Gilberto Kassab, evitou o fortalecimento de um núcleo anti-Serra no PSDB paulista e ainda deixou o governador mais próximo do DEM, partido que embarcou de vez no projeto presidencial do tucano.

Serra se fortaleceu para enfrentar o candidato do PT em 2010. Desde 1994, PT e PSDB são os pólos de poder das disputas presidenciais. Os resultados das eleições municipais reforçam a reedição desse Fla-Flu na sucessão presidencial de 2010.

Qual será a participação de Aécio nessa disputa? Ele tem três opções. Ganhar de Serra no PSDB e virar o candidato. Migrar para outro partido a fim de disputar o Palácio do Planalto. E concorrer a senador por Minas em 2010 por seu atual partido com enorme chance de sucesso, credenciando-se para ser um dos nome fortes do Congresso.

Aécio tem dado sinais de que pretende participar da partida presidencial. O jogo no PSDB não está jogado, e ele tem esperança de ser o escolhido.

Nos bastidores, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso insiste numa chapa puro-sangue, com tucanos na cabeça e na vice da chapa. FHC age para que Aécio seja o coadjuvante de Serra, o que o mineiro diz não estar nos seus planos.

E a mudança de partido, rachando o PSDB? Existem dois caminhos: PSB e PMDB. O PSB já tem o seu presidenciável, o deputado federal Ciro Gomes. Não faria sentido ingressar num partido que terá pouco tempo de TV.

Apesar de estar mais bem posicionado nas pesquisas, Ciro já disse que admitiria ser vice de Aécio. Isso valeria para uma candidatura do mineiro pelo PSDB, PSB e PMDB. O movimento de Ciro objetiva enfraquecer Serra, de quem é inimigo figadal.

No caso de troca de legenda, faria mais sentido o ingresso de Aécio no PMDB, partido do seu avô, o presidente Tancredo Neves, que completaria 100 anos em 2010. Uma aliança do PMDB com o PSB de Ciro poderia viabilizar uma terceira via na disputa presidencial.

Há peemedebistas que avaliam que Lula poderia gostar da idéia. O presidente lançaria a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, pelo PT e teria outro candidato simpático concorrendo pelo PMDB. Lula deu sinais recentes de que deseja que o PMDB indique um vice para Dilma. Motivo: o presidente não acredita que Aécio teria a ousadia de deixar o PSDB pelo PMDB. No entanto, se o mineiro tomasse tal atitude, o presidente poderia voltar a depositar fichas em Aécio para sucedê-lo.

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Nuvem política

Tem peemedebista que sonha com uma chapa que hoje parece impossível. Aécio entraria no PMDB. Lula convenceria o PT a indicar o vice. E o PSB de Ciro ainda seria convidado a apoiar tal aliança.

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Registros

Esta "Pensata" trata de cenários que começaram a ser discutidos logo após os resultados das eleições municipais, que fortaleceram o PMDB. Esses cenários poderão resultar em nada. Mas a política já deu exemplos de capacidade de surpreender. Ainda faltam dois anos para as eleições de 2010, quando estarão em disputa a Presidência, os governos estaduais (mais o Distrito Federal), dois terços dos Senado, as 513 vagas na Câmara dos Deputados e todas as Assembléias Estaduais (inclusive a Câmara Distrital de Brasília).

Também é preciso levar em conta que Lula enfrenta um grande teste: a gestão da crise econômica internacional. Tentar eleger Dilma com vento a favor é uma coisa. Tentar eleger a ministra num cenário de complicação econômica é outra coisa.

Kennedy Alencar colunista da Folha Online e repórter especial da Folha em Brasília. Escreve para Pensata às sextas e para a coluna Brasília Online, sobre bastidores do poder, aos domingos. É comentarista do telejornal "RedeTVNews", de segunda a sábado às 21h10, e apresentador do programa de entrevistas "É Notícia", aos domingos à meia-noite.

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