Pensata

Kennedy Alencar

12/03/2009

Lula e Obama: "química" e bancos

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva aposta que terá uma "boa química" com o colega americano, Barack Obama, na reunião deste sábado em Washington. Será o primeiro encontro pessoal entre os dois, que já se falaram por telefone.

Mais importante do que temas administrativos concretos, interessa a Lula causar uma primeira boa impressão em Obama. Foi assim com George W. Bush no final de 2002, quando o então presidente eleito do Brasil se encontrou com o homem mais poderoso do mundo.

Lula e seus principais auxiliares acreditam ser grande a chance de um relacionamento pessoal ainda melhor do que houve com Bush. Interessa a Washington reforçar a liderança moderada do Brasil na América, região do planeta em que existe forte sentimento anti-EUA.

Ministros e assessores de Lula dizem que há aspectos simbólicos comuns na carreira de ambos. Lula é um retirante nordestino que conheceu a pobreza de perto. Fez carreira sindical e chegou à Presidência após perder três vezes consecutivas. O americano é o primeiro negro a presidir os EUA. Lula e Obama são carismáticos e utilizam discursos diretos para a população a fim de fazer valer seus projetos políticos.

Um primeiro encontro tem sempre mais importância simbólica do que prática. Os temas administrativos precisam de diversas reuniões entre os presidentes e as suas equipes para começar a render frutos. Uma boa química acontece ou não na primeira vez.

Do ponto de vista prático, Lula pretende apresentar a Obama uma agenda enxuta. Deverá propor que ele se empenhe para concluir a rodada Doha e evite medidas protecionistas da maior economia do mundo numa hora de grave crise.

Lula também deseja que o americano seja mais ousado para sanar problemas dos bancos americanos. Para o Brasil, Obama não deve descartar eventual estatização temporária, seguindo os passos de Gordon Brown, primeiro-ministro inglês que adotou essa fórmula. Ou seja, Lula acha que Obama precisa mostrar ao mundo que resolveu os problemas dos bancos americanos. Essas instituições sofreram enormes prejuízos na crise e podem quebrar.

Lula também fala do etanol, tema discutido muitas vezes com a administração Bush. O Brasil quer diminuir restrições dos EUA à importação do álcool combustível. Por ora, o governo brasileiro manterá o discurso de não ter que substituir a Venezuela como fornecedora de óleo cru aos EUA. O Brasil não tem hoje excedentes relevantes para exportar. O petróleo do pré-sal ainda demorará a ser explorado em larga escala. E a prioridade é agregar valor: refinar aqui e criar uma indústria do petróleo.

O terceiro ponto da agenda será a América Latina. Hugo Chávez, presidente da Venezuela, pediu ao petista que o ajude a melhorar relação com EUA e o aproxime de Obama. Lula pretende fazer isso, mas num contexto de maior "conciliação" com América Latina. Dirá, por exemplo, que são positivas medidas para suavizar ou encerrar o bloqueio americano a Cuba.

Kennedy Alencar colunista da Folha Online e repórter especial da Folha em Brasília. Escreve para Pensata às sextas e para a coluna Brasília Online, sobre bastidores do poder, aos domingos. É comentarista do telejornal "RedeTVNews", de segunda a sábado às 21h10, e apresentador do programa de entrevistas "É Notícia", aos domingos à meia-noite.

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