Pensata

Kennedy Alencar

04/04/2009

Obama é o cara

O encontro do G-20 em Londres foi muito positivo para o Brasil, um dos países que mais brigaram para que o G-8 fosse ampliado e passasse a dar ouvidos a economias emergentes antes ignoradas.

O G-20 reúne as 20 maiores economias --responsáveis por cerca de 80% da produção planetária. O G-8 é o grupo dos sete países mais industrializados mais a Rússia, uma potência militar.

É inegável o mérito da política externa do presidente Luiz Inácio Lula da Silva no sentido de pressionar os países mais ricos a levar em conta o que pensam as nações em desenvolvimento e as mais pobres.

Lula abandonou a retórica do coitadinho. Mesmo sob críticas internas de mania de grandeza, agiu como líder de um país de peso. Fez concessões aos mais pobres e críticas aos mais ricos.

Os exemplos são muitos. Há a missão brasileira no Haiti a serviço da ONU (Organização das Nações Unidas). O Brasil estreitou laços com países africanos e árabes. Assumiu posições ousadas nas negociações da emperrada rodada Doha. Não adotou tom imperialista com a Bolívia. Mediou com maturidade o esquerdismo infantil de Hugo Chávez, mas também soube reconhecer méritos do governo venezuelano e apontar equívocos dos EUA.

Juntando tudo isso, não é pouca coisa.

Os elogios de Barack Obama a Lula foram reconhecimento da maior importância que o Brasil ganhou nos últimos anos.

No Brasil, as leituras do vídeo em que Obama chama Lula de "meu chapa" foram do ufanismo ao desprezo. Ora, o homem mais poderoso do planeta, um craque em marketing como Lula, sabe muito bem o peso das palavras e das imagens.

Para Obama, Lula "é o cara" que será um parceiro importante para a política externa de Washington na América Latina e nos grandes fóruns mundiais, como ONU e G-20.

Corretamente, bastante já foi dito sobre Obama ser o primeiro presidente americano a não se relacionar com o resto do mundo com aquele ar de imperador romano. Os sinais cordiais para as nações islâmicas, a abertura para se relacionar com Cuba e o evidente gesto de apreço por Lula mostram que ele pode, sim, liderar uma mudança positiva no planeta.

Dá esperança de que um outro mundo é realmente possível. E vale a pena torcer por isso, sem ingenuidade e ciente de que grandes transformações podem levar tempo. Mais: os desafios do presidente americano são enormes, da crise econômica mundial a duas guerras complicadas. Apesar do necessário ceticismo em relação à capacidade de uma só pessoa fazer a diferença, Obama é o cara certo no lugar certo na hora certa.

Kennedy Alencar colunista da Folha Online e repórter especial da Folha em Brasília. Escreve para Pensata às sextas e para a coluna Brasília Online, sobre bastidores do poder, aos domingos. É comentarista do telejornal "RedeTVNews", de segunda a sábado às 21h10, e apresentador do programa de entrevistas "É Notícia", aos domingos à meia-noite.

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