Pensata

Kennedy Alencar

18/04/2009

Brasil fez a lição de casa

Na economia, o governo Lula agiu com responsabilidade. Isso é um fato. O chamado inchaço da máquina pública é controverso.

Há bons argumentos que justificam aumentos de despesas correntes, tão criticadas por economistas mais afinados com o pensamento do mercado financeiro. Nesses gastos, há merenda escolar, repasses aos hospitais, contratação de mais funcionários, reajustes do funcionalismo.

O governo atual alega que tentou recompor a máquina pública, valorizando carreiras importantes do Estado. A Polícia Federal recebeu aumentos salariais polpudos. A Receita Federal e a burocracia de agências reguladoras também.

Há bons argumentos contra o aumento de despesas correntes. Diminui a margem para os investimentos, que são gastos em obras novas. Por exemplo: construir uma estrada é investimento. Mas conservá-la é custeio. Ora, ambos os gastos são importantes. Ao elevar as despesas correntes, Lula cria gastos permanentes que precisarão ser financiados. Até setembro do ano passado, a administração petista nadou numa onda de prosperidade mundial. Hoje temos uma crise. A arrecadação de impostos caiu.

Demonizar o gasto corrente é ideológico. Pedir maior racionalidade a esse tipo de despesa, não. É fundamental para o Brasil melhorar a qualidade do seu gasto público.

Nesse cenário de cobertor curto, como enfrentar a crise e administrar o país? O governo Lula reduziu o superávit primário --a poupança que faz todo ano para pagar a dívida pública. A meta anual de 3,8% do PIB (Produto Interno Bruto) caiu, na prática, para 2,5%. O presidente fez a coisa certa.

Quando assumiu o poder, em 2003, Lula elevou o superávit primário. Naquela época, a dívida pública correspondia a 53% do PIB. Hoje, está entre 37% e 38%. Estima-se que possa se aproximar dos 40% nos próximos dois anos. O próprio mercado financeiro acha que é um número bom e que a redução do superávit permitirá um manejo sustentável, para usar o termo da moda.

Isso foi possível porque o Brasil fez a lição de casa nos últimos anos. Não é mérito só de Lula, mas muito do mérito é do petista. Ele soube agir com responsabilidade na economia, equilibrando-se entres ações ortodoxas e heterodoxas.

O rigor fiscal e monetário caminhou ao lado de políticas expansionistas, como incentivo ao crédito consignado, aumento do crédito agrícola, elevação do crédito em geral, ampliação corretíssima de programas sociais. A lista é longa. E o nosso mercado interno anda surpreendendo positivamente em tempos de crise.

Portanto, esse negócio de superávit alto pelo resto da vida é discurso ideológico. Não se faz sacrifício indefinidamente. É preciso uma contrapartida num momento de crise mundial e no qual todos os países seguem uma receita que exige do estado a elevação de suas despesas.

Kennedy Alencar colunista da Folha Online e repórter especial da Folha em Brasília. Escreve para Pensata às sextas e para a coluna Brasília Online, sobre bastidores do poder, aos domingos. É comentarista do telejornal "RedeTVNews", de segunda a sábado às 21h10, e apresentador do programa de entrevistas "É Notícia", aos domingos à meia-noite.

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