Pensata

Kennedy Alencar

20/06/2009

Popularidade subiu à cabeça de Lula

Esse filme é antigo. Já foi visto algumas vezes nos seis anos e meio de poder de Luiz Inácio Lula da Silva. Portanto, é mau presságio.

Começa assim. Lula obtém um excelente índice de avaliação nas pesquisas. No último levantamento do Datafolha, por exemplo, ele voltou a bater o recorde da série histórica do instituto.

Aí o sucesso sobe à cabeça do presidente. Ele desanda a falar absurdos. Torna-se arrogante. E acontece um fato político ou econômico que joga o governo numa crise.

Nos últimos tempos, Lula andou abusando. A alta popularidade não lhe dá carta branca para se comportar como um deus político que distribui perdões e relativiza maus comportamentos. Presidente da República tem de dar bons e não maus exemplos.

Para Lula, as democráticas e preocupantes manifestações da oposição iraniana são queixas de torcida de futebol. Algo como briga entre flamenguistas e vascaínos.

Essa foi feia. Bem feia. Pega mal para quem tem lugar de destaque na comunidade internacional. Lula é respeitado no exterior. Muito bom para o Brasil. Por isso, deveria ter mais cuidado ao falar de política externa.

Outra do presidente foi defender José Sarney se utilizando de um argumento fraco, deseducador. E ainda atacar o "denuncismo".

Se existem um político e um partido que foram beneficiados pelo "denuncismo", são Lula e o PT. Aliás, isso foi um mérito civilizatório da política brasileira. A cobrança por padrões mais rigorosos de ética na política prestou serviços à democracia quando não se traduziu em udenismo.

Voltando a Sarney, Lula disse que o presidente do Senado, que já foi presidente da República, não pode ser tratado como um cidadão comum. Ora, todos são iguais perante a lei, seja o presidente da República, um ex-presidente, um jornalista ou "um mero caseiro" _outra pisada na bola de Lula quando se referiu a Francenildo Costa, aquele que teve o sigilo bancário quebrado no episódio que resultou na saída de Antonio Palocci Filho da Fazenda.

Lula tem os seus motivos políticos legítimos para defender Sarney. Acha que enfraquecer seu aliado político no Senado, Casa do Congresso onde passa sufoco desde o primeiro mandato, é importante para a sua governabilidade na reta final do mandato. Seu governo depende do PMDB do Senado.

O presidente também é grato a Sarney, que defendeu a honra do petista quando este era um oposicionista. E Lula acha que Sarney será fundamental para viabilizar a eventual candidatura presidencial da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, no ano que vem.

Havia outros argumentos mais sólidos a recorrer. O presidente optou pelo pior caminho: dizer que Sarney não pode ser questionado ou investigado porque tem história neste país.

Nem um pio sobre confusões entre público e privado. Agora, ficamos sabendo que até mordomo da família Sarney é pago com dinheiro do Senado.

Na sexta-feira (19/06), na Amazônia, veio outra do presidente.

Lula disse: "Ninguém pode ficar dizendo que ninguém [alguém] é bandido porque desmatou. Nós tivemos um processo de evolução e agora precisamos remar ao contrário. Nós temos que dizer para as pessoas que, se houve um momento em que a gente podia desmatar, agora desmatar joga contra a gente".

Haja benevolência para entender o contexto e dar um desconto. Mas não dá. A frase é infeliz. Perdoa desmatador e dá a entender que não é bom derrubar a mata agora porque "desmatar joga contra a gente".

Imaginem se jogasse a favor...

Kennedy Alencar colunista da Folha Online e repórter especial da Folha em Brasília. Escreve para Pensata às sextas e para a coluna Brasília Online, sobre bastidores do poder, aos domingos. É comentarista do telejornal "RedeTVNews", de segunda a sábado às 21h10, e apresentador do programa de entrevistas "É Notícia", aos domingos à meia-noite.

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