Pensata

Kennedy Alencar

30/11/2009

É a economia, inteligente!

Com freqüência, invoca-se o famoso bordão usado em 1992 por Bill Clinton para argumentar que a economia é o principal fator a decidir uma eleição. "É a economia, estúpido" simbolizou a vitória do democrata Clinton sobre George Bush pai, republicano que tentava a reeleição para a Casa Branca naquele ano.

No entanto, existem outros exemplos semelhantes na história recente. Em 2008, o agravamento da crise econômica internacional foi fundamental para a vitória do democrata Barack Obama contra o republicano John McCain.

No Brasil, tivemos dois exemplos bem claros do peso decisivo da economia. Em 1986, no auge do Plano Cruzado, o PMDB elegeu 22 dos 23 governadores de Estados do país à época.

Em 1994, o Plano Real tirou o tucano Fernando Henrique Cardoso praticamente do zero e o levou a conquistar a Presidência no primeiro turno. Quatro anos depois, a economia garantiu a reeleição de FHC em outra vitória na primeira rodada.

A eleição de Luiz Inácio Lula da Silva em 2002 aconteceu num quadro de adversidade econômica do governo FHC, que tinha, então, o tucano José Serra como seu candidato.

Obviamente, há momentos em que outro fator possa vir a ter mais peso do que o econômico. Mas, num quadro de normalidade democrática, tudo indica que, sim, "é a economia, estúpido". Razão: se a economia vai bem, a vida da maioria das pessoas está melhor do que antes. Essa sensação de melhora, de ganho, tende a levar a maioria do eleitorado a uma decisão mais pragmática. Se está bom, mudar por qual motivo?

É essa a difícil resposta que a oposição precisa encontrar para ter chance de vencer a eleição. Hoje o governador de São Paulo, José Serra, é o favorito, de acordo com as pesquisas. Mas, como a eleição será em outubro do ano que vem, há tempo suficiente para que o governo vitamine a sua candidata, a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff. Ou seja: a tendência é a vitória da candidatura governista.

Por isso, soa estranha a declaração de Serra em recente entrevista à rádio Joven Pan. Resumindo: ele disse que a economia não decidirá a eleição. Para ele, o fator decisivo será um julgamento da população sobre quem está mais preparado para governo. No caso, ele acha que é ele.

"O cenário, a percepção de que a economia vai bem, etc. e tal, é um dado da realidade. Não acredito que isso vá decidir ou deixar de decidir a eleição. A população vai olhar para os candidatos e querer saber quem é mais preparado para governar", afirmou o governador.

Neste momento, talvez seja a única resposta possível para um candidato de oposição. Reconhecer o contrário equivaleria a uma confissão antecipada de derrota. Mas, inteligente, Serra sabe que é a economia. Tão inteligente quanto, Lula também. E tudo indica que 2010 será um ano de forte crescimento econômico.

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Vacina petista

Como sabe que a linha de campanha do PSDB será mostrar que Serra seria mais preparado do que Dilma para governar, o governo insistirá na tese de chamar a população para um julgamento plebiscitário entre as administrações FHC e Lula.

Dizer que Lula faz um bom governo é chover no molhado. Sua gestão é melhor do que a de FHC. Ao dar a Lula elevado índice de aprovação, a população confirma isso. Para atestar o preparo de Dilma, Lula vem dividindo com ela a responsabilidade pela performance do governo.

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Primeiras impressões

O episódio do Mensalão do DEM tira discurso da oposição para as eleições de outubro de 2010. As imagens de políticos recebendo propina são muito fortes. O governador José Roberto Arruda (DEM-DF) jogou fora a segunda chance que recebeu do eleitorado.

O maior mal da política brasileira é o financiamento de campanhas políticas. No caso em questão, além do aspecto eleitoral, tem a roubalheira pura e simples. Corrupção mesmo.

PT e PSDB já provaram desse veneno. Apesar disso, na média, seus quadros políticos são melhores do que democratas e peemedebistas, com as honrosas exceções que confirmam essa regra.

Kennedy Alencar colunista da Folha Online e repórter especial da Folha em Brasília. Escreve para Pensata às sextas e para a coluna Brasília Online, sobre bastidores do poder, aos domingos. É comentarista do telejornal "RedeTVNews", de segunda a sábado às 21h10, e apresentador do programa de entrevistas "É Notícia", aos domingos à meia-noite.

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