Pensata

Kennedy Alencar

18/03/2010

Intervenção em Brasília já

O STF (Supremo Tribunal Federal) deverá analisar na primeira quinzena de abril o pedido de intervenção federal em Brasília que foi apresentado pela Procuradoria Geral da República. Se não decretar a intervenção, o Supremo cometerá um erro.

A corrupção em Brasília é mais grave do que mostraram as imagens gravadas por Durval Barbosa, o delator do esquema do mensalão do DEM no Distrito Federal. É necessária uma força-tarefa composta por juízes, procuradores e policiais federais para realizar uma espécie de "Operação Mãos Limpas". Não basta a varredura da Controladoria Geral da União nos repasses federais. É preciso averiguar em detalhes como cada tostão dos cofres públicos vem sendo gasto.

A máfia brasiliense não está apenas nos cargos mais altos do Executivo e do Legislativo. Espalhou-se por órgãos públicos e administrações regionais. Para cada estatal, há uma ou mais gangues. Ilegalidades são cometidas por servidores corruptos e empresários corruptores.

Por que chegamos a esse ponto?

Na época de Joaquim Roriz, um ícone do atraso na política, havia uma espécie de comando único na corrupção. Essa ordem unida decretou um silêncio que garantiu impunidade e fortuna a corruptos e corruptores. Com a eleição de José Roberto Arruda em 2006, aconteceu um racha. Houve uma briga de quadrilha, para usar um termo elegante.

A classe política de Brasília derreteu. A mesma Câmara Distrital que abafou investigações contra Arruda agora deseja votar o seu impeachment e eleger, por voto indireto, um novo governador. Nas estatais, há até ameaças de violência física para a manutenção de contratos superfaturados.

Só uma força-tarefa federal, respaldada pela autoridade do Supremo, poderá fazer uma investigação profunda em Brasília. Em outubro, haverá a eleição de um novo governo e de uma nova Câmara Distrital. Essa força-tarefa teria até 1º de janeiro de 2011 a missão de realizar uma ampla varredura em todas as esferas do Executivo e do Legislativo de Brasília.

Inscrita na Constituição, a intervenção é um instrumento de preservação do Estado democrático de direito.

É uma saída radical? Sim.

Deve ser usada em situações extremas? Sim.

É o caso de Brasília? Sim.

O discurso de que as coisas estão voltando ao normal interessa mais a um grupo de corruptos e corruptores do que aos dois milhões de pessoas que vivem em Brasília. O Supremo tem a oportunidade de tomar uma decisão histórica. Se optar pela intervenção, dará um passo importante no combate à corrupção em todas as esferas de poder no país.

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Covardia e omissão

O senador Cristóvam Buarque (PDT-DF) não tem o direito de excluir seu nome das conversas sobre candidatura a governador de Brasília. Beira a covardia preferir a recondução fácil a uma cadeira do Senado numa hora dessas.

No PT, há uma guerra interna que só levanta podres sobre os possíveis candidatos a governador. O DEM não tem nome a apresentar. O truculento deputado federal Alberto Fraga (DEM-DF) quer concorrer ao governo. Politicamente, o PSDB sumiu em Brasília. O PPS também.

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Normalidade?

Os repórteres Filipe Coutinho e Fernanda Odilla mostraram que, em 13 dias de trabalho, o governador interino do Distrito Federal, Wilson Lima (PR), fez, em média, 63 nomeações por dia. A reportagem, na Folha, constatou a troca de comando em 30 delegacias em um único dia.

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Saída política?

A eleição indireta de um governador pela Câmara Distrital é mera tentativa de acomodação. Seria mudar para ficar como está. O procurador-geral da República, Roberto Gurgel, está certo ao questionar a legitimidade de deputados distritais para tomar essa decisão. Metade deles se alimentou do mensalão do DEM.

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De volta ao passado

Na propaganda política no rádio, chega a ser cômico ouvir políticos do nível do deputado federal Tadeu Felipelli (PMDB), um pupilo de Roriz, fazer apelo para que aprendamos com os erros do passado e pensemos no futuro. Ou escutar a deputada distrital Jaqueline Roriz (PMN) falar em realização de sonhos.

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É o lobo

Não se brinca com a saúde. É uma questão de direitos humanos dar atendimento médico a presos. Mas o governador cassado de Brasília, José Roberto Arruda, fingiu e mentiu reiteradas vezes sobre assuntos políticos e pessoais. Não parece crível a versão de que está mal de sáude e que, portanto, seria questão humanitária uma prisão domiciliar. De qualquer maneira, é justo que médicos independentes avaliem seu estado.

Kennedy Alencar colunista da Folha Online e repórter especial da Folha em Brasília. Escreve para Pensata às sextas e para a coluna Brasília Online, sobre bastidores do poder, aos domingos. É comentarista do telejornal "RedeTVNews", de segunda a sábado às 21h10, e apresentador do programa de entrevistas "É Notícia", aos domingos à meia-noite.

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