Pensata

Kennedy Alencar

26/03/2010

Eleição entra em nova fase

O usual é a oposição tentar antecipar a disputa eleitoral, levando o governo a postergar o embate. No segundo mandato de Lula, aconteceu o contrário. O presidente da República preferiu entrar em campo bem cedo. E fez isso com competência.

Hoje, a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, é uma candidata consistente e competitiva. Institutos de pesquisa já a consideram favorita. Lula demonstra confiança na vitória. Sonha com uma conquista no primeiro turno.

Na oposição, reinou certa desorganização. PSDB e DEM não se entenderam. O candidato sempre foi o governador de São Paulo, José Serra, mas ele resistiu o quanto pôde a assumir a postulação. Já a admitiu, mas não muito. Coisas da conhecida indecisão tucana.

Portanto, o jogo tem sido favorável ao campo governista. Até a crise econômica de 2008-2009 ajudou Lula. O presidente a gerenciou com habilidade, tomou decisões econômicas corretas e contestadas à época. E teve sucesso.

Enquanto isso, Serra fez previsões equivocadas sobre a crise. Pelo que dizia o tucano, 2010 seria um ano de forte ressaca da crise, propiciando um ambiente econômico desfavorável ao projeto eleitoral do governo. Aconteceu o contrário. O cenário econômico da eleição será benéfico para Dilma.

Olhando assim, parece que a eleição está decidida.

Mas faltam mais de sete meses para o voto ser depositado na urna. Serra não é um adversário fraco, como foi Geraldo Alckmin para Lula em 2006. Só agora a oposição entrará em campo para valer. Apresentará o seu mais forte jogador. O tucano tem a simpatia de boa parte da imprensa. Divide o coração do empresariado com Dilma --em alguns setores, é mais benquisto do que a petista.

Serra jogará a maior cartada de sua carreira política. Está na vida pública desde o começo dos anos 60.

Tem os meios e a disposição para jogar duro contra adversários e inimigos. A retórica pública doce em relação a Lula, dizendo que o petista está terminando bem o governo, não deve servir a ilusões. O PSDB prepara artilharia pesada para enfrentar Dilma.

Será interessante acompanhar essa nova fase da eleição, na qual o time da oposição terá de assumir diretamente o combate ao governo.

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Avaliação apressada

Uma parcela do PSDB subestima Dilma. Não são poucos os senadores e deputados tucanos que a veem como uma candidata frágil, um poste de Lula. Ela enfrentou a ditadura e torturadores. Disciplinada, deu prova de inteligência política ao virar a candidata de um partido complicado como o PT. Se falta experiência eleitoral, ganhou preparo político nos últimos tempos. Amadureceu. Não é mais a inábil ministra daquele desastrado dossiê contra FHC elaborado na Casa Civil.

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Salto alto

Pessoas que estiveram recentemente com Lula saíram com a impressão de que ele está excessivamente confiante na vitória de Dilma. Em outros momentos em que se julgou poderoso demais, Lula cometeu erros que custaram caro à sua administração.

Kennedy Alencar colunista da Folha Online e repórter especial da Folha em Brasília. Escreve para Pensata às sextas e para a coluna Brasília Online, sobre bastidores do poder, aos domingos. É comentarista do telejornal "RedeTVNews", de segunda a sábado às 21h10, e apresentador do programa de entrevistas "É Notícia", aos domingos à meia-noite.

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