Pensata

Kennedy Alencar

09/04/2010

Dilma como ela é

Para quem não queria brigar com o presidente Lula, mas com a candidata Dilma, o virtual postulante do PSDB à Presidência, José Serra, andou perdendo oportunidades nos últimos dias.

Ok. Serra ainda não assumiu com todas as letras a candidatura. Prepara um discurso para este sábado, 10 de abril, a fim de lançar seu nome à Presidência da República. Está empenhado em apontar fragilidades concretas do governo Lula, destacar a geração de empregos como a prioridade zero e marcar um suposto abismo ético entre ele e Dilma.

Vamos aguardar o discurso. É razoável esperar respostas à pré-candidata do PT.

Afinal, na primeira semana em que Serra e Dilma deixaram suas funções públicas, ela foi ao ataque. A petista rebateu crítica indireta da semana anterior em que o tucano afirmou que no seu governo em São Paulo não se cultivaram 'escândalos' e 'roubalheiras'.

Na segunda-feira, 5 de abril, em entrevista ao jornal "O Estado de S. Paulo", a ex-ministra disse que o debate focado na ética "é muito bom para a gente [governo e PT]". E atirou diretamente no tucano: "O Serra que me desculpe, mas ele não foi só ministro da Saúde. Foi ministro do Planejamento. Planejou o quê, hein? Ali se gestou sabe o quê? O apagão".

A petista ligou a passagem do tucano pelo Planejamento em 1995 e 1996, no primeiro mandato de FHC, ao racionamento de energia elétrica de 2001.

Não houve resposta do próprio Serra. Quem rebateu foi o presidente do PSDB, o senador Sérgio Guerra (PE). O senador cobrou explicações sobre o mensalão petista, o dossiê dos aloprados e ações do tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, na administração de cooperativa de bancários em São Paulo.

Na mesma segunda, em evento com o PR no Congresso, Dilma voltou a pegar pesado. Disse que o eleitorado saberá identificar "lobos em pele de cordeiro". Era alusão à estratégia de Serra de não bater em Lula, apresentando-se como alguém mais capaz para governar e disposto a manter realizações boas do petista.

A resposta coube ao PSDB e aliados. Serra não entrou na briga.

Na terça, Dilma visitou o túmulo de Tancredo Neves, presidente eleito indiretamente em 1985 que morreu antes de assumir. Avô de Aécio Neves, tucano e ex-governador de Minas, Tancredo é um símbolo disputado por várias correntes políticas, sobretudo pelo PMDB e o PSDB. O PT não quis votar em Tancredo no Colégio Eleitoral, mas Lula fez mea culpa posterior sobre o radicalismo do partido.

A visita tinha o objetivo de acenar para Aécio e relembrar ao eleitorado do Estado que a candidata nascera lá. O PT tenta bombardear uma composição para Aécio ser vice de Serra. Na quarta, Dilma falou que, a exemplo de 2002 e 2006, quando parte do eleitorado mineiro optou pelo voto "Lulécio" (Lula e Aécio), ela não descartava algo semelhante em 2010. Indagada em entrevista de rádio sobre eventual voto "Dilmasia" em outubro, ela disse que talvez soasse melhor "Anastadilma". O atual governador e ex-vice de Aécio, Antonio Anastasia (PSDB), disputará o Palácio da Liberdade em 2010. A viagem de Dilma a Minas contrariou tucanos e o próprio Serra, que mais uma vez se manteve publicamente calado. Anastasia respondeu um dia depois. Segundo ele, tal voto não encontraria 'amparo na realidade'.

Serra deve ter lá os seus motivos para evitar o confronto. E Dilma tem os seus para buscá-lo.

A campanha petista parece ter deixado em segundo plano, por enquanto, a ideia de vendê-la como uma mulher doce, sensível, boazinha. Não combina com o estilo aguerrido e assertivo da ex-ministra. Para surpresa de tucanos e de alguns analistas, o figurino da semana mostrou Dilma como ela é. Longe de Lula, acertou mais do que errou no primeiro voo solo.

Kennedy Alencar colunista da Folha Online e repórter especial da Folha em Brasília. Escreve para Pensata às sextas e para a coluna Brasília Online, sobre bastidores do poder, aos domingos. É comentarista do telejornal "RedeTVNews", de segunda a sábado às 21h10, e apresentador do programa de entrevistas "É Notícia", aos domingos à meia-noite.

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