Mesmo
para quem não gosta ou não entende de futebol, o depoimento
do ex-treinador da seleção, Wanderley Luxemburgo, na
CPI do Futebol, foi um evento imperdível.
Luxemburgo
se enrolou a mais não poder para tentar explicar o destino
de R$ 10 milhões que passaram por suas contas bancárias
entre 1995 e 99, sem terem sido declarados à Receita Federal.
Afirmou
desconhecer até mesmo que sua mulher tivesse uma conta bancária
nos Estados Unidos e para tanta desinformação deu
uma justificada prosaica: é um homem desorganizado, que não
controla quando ganha ou gasta.
Tenho
dito que a maioria absoluta dos empresários e políticos
brasileiros não sobreviveria a uma devassa fiscal e à
quebra do sigilo bancário. Esse diagnóstico, vejo
agora, vale também para jogadores e técnicos de futebol.
Abrir
contas no exterior virou uma coisa corriqueira. Não é
preciso sequer sair de casa ou do escritório.
Não
há dificuldades nem mesmo para os que querem lavar dinheiro
de caixa dois, de corrupção e até mesmo do
narcotráfico.
Escritórios
de advocacia providenciam, em questão de horas, o registro
de empresas em paraísos fiscais. São firmas de papel,
que podem mudar de mãos por meio de simples procurações,
e movimentam milhões de dólares no exterior.
Na
semana passada, o INSS descobriu mais US$ 30 milhões em uma
conta de um banco em Luxemburgo em nome da maior fraudadora da previdência
identificada até agora: a advogada Jorgina de Freitas, que
está presa no Rio. Perto dela, o ex-treinador da seleção
é café pequeno.
No
ano passado, depois de um mês de investigação
jornalística na Folha, chegamos a indícios
de que a Igreja Universal do Reino de Deus, do bispo Edir Macedo,
tem pelo menos duas contas em paraísos fiscais (uma em Cayman
e a outra a Ilha de Jersey), de onde remeteram US$ 18 milhões
para o Brasil.
O dinheiro
foi usado para financiar a compra da TV Record do Rio de Janeiro.
Os dólares entraram no país pelo Uruguai, numa estratégia
para dificultar o rastreamento.
O procurador-geral
da República, Geraldo Brindeiro, determinou que o caso fosse
investigado pelo Banco Central, pela Receita Federal e pela Polícia
Federal. Nenhuma dessas três instâncias, até
agora, chegou a algo produtivo.
Vez
por outra, o Banco Central descobre um megaesquema de remessas de
dinheiro para o exterior, usando contas CC5 (para estrangeiros)
que permitem o envio de recursos para fora do país. Em geral,
os bandidos menores mandam o dinheiro para o Paraguai. As grandes
contas são movimentadas nos Estados Unidos e na Europa.
A classe
média tem mostrado uma preferência pelos bancos de
Miami, para depositar suas economias de origem duvidosa. Foi o caso
do Wanderley Luxemburgo.
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