O governo
decidiu que a Petrobras, a maior empresa brasileira, vai trocar
de nome. Vai se chamar PetroBrax e reduzir a força do verde-amarelo
no logotipo. Os motivos apresentados para justificar a mudança:
os estrangeiros não conseguem pronunciar o "s"
final de Petrobras e a marca atual está ligada ao passado.
Não
se tem notícia de que Shell, Esso ou Texaco estejam pensando
em trocar de nome. Ao contrário, tudo o que uma grande empresa
quer é ter uma marca forte, consolidada no tempo, conhecida,
respeitada e com credibilidade. Qualquer manual de negócios
ressalta a importância da marca, do nome da firma para os
negócios.
O governo
resolveu ignorar tudo isso. Primeiro, sem alarde, tirou o acento
da Petrobrás. É que os estrangeiros não entendiam
aquele sinal agudo na última sílaba. Confundiam com
um apóstrofe. Agora, veio a radical alteração
no âmago da marca.
A razão
é a mesma: bajular os estrangeiros, facilitar a pronúncia
deles e, de quebra, apagar o "passado" da empresa.
O intrigante
é que esse mesmo "passado" é responsável
pela transformação da empresa em uma das melhores
do setor, com liderança em certas tecnologias, como a de
prospecção em águas profundas. Depois de quase
50 anos, a Petrobras conseguiu atingir um patamar de produção
equivalente a 80% do consumo nacional. A tão sonhada auto-suficiência
em petróleo será viável nos próximos
anos.
Outro
argumento apresentado para justificar a mudança: facilitar
a entrada da empresa nos mercados latino-americanos. Disfarçando
a procedência brasileira, os vizinhos não veriam a
Petrobras como uma ação "imperialista" brasileira.
Como se fosse preciso mascarar a origem da marca. Alguém
já viu Texaco, Esso ou Shell agirem dessa forma?
É
claro que existem muitas críticas à Petrobras. Muitos
acreditam que ela poderia estar bem melhor se tivesse sido privatizada
no passado. Nunca será possível provar essa tese.
O que
é certo é que a mudança de nome decidida é
patética, para dizer o mínimo. Revela um servilismo
cultural que não se vê em países desenvolvidos
nem em empresas globais com espinha. O próximo passo pode
ser mudar o nome do país (Brazil? Brasix?) ou instituir o
inglês como língua oficial. Para ficar mais fácil
a vida dos estrangeiros. Pode?
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