Pensata

Luiz Caversan

20/12/2008

Pica-Pau versus Megatron

Todo final de ano é a mesma dúvida: o que dar de presente para o Antonio?

Sou padrinho do Antonio, ou seja, sou co-responsável pela felicidade dele, sobretudo em datas assim: Natal, aniversário, dia das crianças etc.

Daí a necessidade e a dúvida: o que eu compro de presente neste Natal?

Sempre passo diante de uma lojinha fofa, aliás, são duas, uma na Praça Vilaboim, outra na Cardoso de Almeida, ambas em São Paulo, que me encantam com seus brinquedos ditos educativos. A maioria na verdade remete à minha infância -peões, pipas, carrinhos de madeira, blocos de armar... -, mas sempre fico tentado a dar algum deles para o Antonio.

E fiz isso várias vezes, desde que ele nasceu, tem lá no quarto dele ainda alguma coisa dessas que mais aliviam a consciência de quem dá do que garantem a alegria de quem recebe.

Isso eu já pensava antes, agora tenho certeza.

Sim, porque, para dirimir a dúvida deste ano, resolvi ligar para o compadre: "O Antonio está numa fase monstros que se transformam", me informou o pai. Bem, eu até que gostei dos Transformers, vi o filme outro dia e o robô bonzinho que virava um Camaro era o máximo. "É, mas ele gosta mesmo é do robô mau", completou a comadre...

Do mau, aquele mauzão, o pior?

Sim, dele mesmo, o Megatron...

Pô, na verdade o filme dos Transformers é uma daquelas bobagens tecnológicas que encantam, a eterna luta do bem contra o mal, com o primeiro triunfando, mas o meu afilhado vai gostar logo logo do bandido, do tenebroso, do ruizão!

E põe bandido nisso, porque o tal do Megatron é pa-vo-ro-so...

Por que o Antonio não quer o Optimus Prime, que é o líder dos bonzinhos?

Porque, lá na sua cacholinha de cinco anos de idade, ele vai ficar do lado do mal. Será para sempre, será que vai influenciar a vida dele?

Bem, enquanto pensava nisso, procurei lembrar da minha própria infância, de como era viciado na televisão, ainda em preto e branco, e de como ficava horas na frente da telinha, a ponto de minha mãe achar que eu estava "viciado"...

Ah, mas naquele tempo era diferente, tudo mais ingênuo e inofensivo, pensei.

Leão da Montanha, Manda Chuva, Pica-Pau...

E por conta de uma grandessíssima coincidência, naquele mesmo dia estava eu diante da TV e, para evitar a novela que antecede o Jornal Nacional, enquanto esperava dar a hora do noticioso, botei a TV na Record. Que naquele horário exibe justamente o meu querido Pica-Pau, o herói das minhas tardes...

Bastaram algumas cenas do desenho animado para que ficar chocado.

A quantidade de sacanagem que o bendito passarinho comete contra todos os demais participantes do seu desenho é de arrepiar a lataria de qualquer Megatron.

Ele é um tremendo mau-caráter, enganador, violentíssimo. Usa todo tipo de armadilha para esmagar, explodir ou fazer picadinho de seus oponentes.

Um horror. Fiquei chocado.

Peraí, mas eu gostava tanto disso quando era criança! Gostava dessa pancadaria toda? Adorava essa risadinha irritante (He-he-he-hé!) que ele emite a cada maldade cometida? Como eu era capaz de não ficar apavorado com tanta violência?

Gente, diante do Pica-Pau o Megatron é um banana...

Bem, para encurtar essa história de Natal, acabei comprando o boneco do robô que se transforma, o tal Megatron, mas escolhi uma caixa em que também vem junto, para compensar, o bonzinho que acaba vencendo a guerra dos robôs no filme.

Espero que o Antonio se divirta. E que, por favor, fique longe dos desenhos desse tarado do Pica-Pau.

*

Leitura de férias: para quem está procurando companhia para a praia ou o ócio do fim de ano, duas recomendações de leitura. A primeira é o mais novo romance de Marcelo Rubens Paiva, uma história contemporânea e forte, que faz pensar, mas também diverte, sobretudo quem gosta de fina ironia. O livro se chama "A Segunda Vez que te Conheci" e é da editora Objetiva.

A outra indicação, de leitura ligeira, é a biografia musical que o jornalista Oscar Pilagallo fez de Roberto Carlos para a coleção "Folha Explica", da editora Publifolha. A trajetória do cantor está toda ali, com análises pontuais de seus principais momentos musicais. É para quem gosta do Rei, claro.

Luiz Caversan é jornalista, produtor cultural e consultor na área de comunicação corporativa. Foi repórter especial, diretor da sucursal do Rio da Folha, editor dos cadernos Cotidiano, Ilustrada e Dinheiro, entre outros. Escreve aos sábados para a Folha Online.

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