Pensata

Luiz Caversan

21/02/2009

Alegria, alegria?

da Folha Online

Rasgou a fantasia, tinha uma nota só.

Silenciou o surdo, fez chorar o tamborim de todas as saudades, estava ele, mais que a nota, só.

Das alegrias de antigamente, nem mesmo os eflúvios do perfume lançado, como diria Bandeira, na boca, na boca...

Saudades, nem em samba-canção, quanto mais nesse enredo sem evolução nem harmonia...

Foi-se ao largo, observando de longe as cores e luzes e excessos de purpurina levados pelo vento das exaltações descontroladas.

Pensou seriamente em botar o bloco na rua, sa-sa-sa-saricando, se acabar até quarta-feira.

Como? Com quem? Pra quê?

Corou e deixou rolar uma, só uma lágrima, apenas uma, azeda e fria, que desfez um pouco a máscara de profunda depressão, dando a ela um quê de infância. Infância perdida nas dobras do esquecimento, fantasia de índio, quanto riso, oh, quanta alegria, mais de mil palhaços no salão.

Ah, vou sair de verdugo, estou saindo de pierrô chorão, nego maluco que não sabe pra onde ir, saindo, indo, indo, saindo da história, dessa história na qual desconheço meu papel, ouvindo cada vez mais distante o bumbo na marcação, o que dirá os repiniques e ton-tons, menos ainda a voz do morro, que insiste em cantar uma alegria que não tenho, nunca tive.

Ah, Carnaval!

Adeus...

(E lá se foi para o fundo das águas nojentas do Tietê, bem ao lado do Sambódromo, dar trabalho para os bombeiros.)

Luiz Caversan é jornalista, produtor cultural e consultor na área de comunicação corporativa. Foi repórter especial, diretor da sucursal do Rio da Folha, editor dos cadernos Cotidiano, Ilustrada e Dinheiro, entre outros. Escreve aos sábados para a Folha Online.

FolhaShop

Digite produto
ou marca