Pensata

Luiz Caversan

01/05/2010

É impossível ser feliz sozinho?

Por que tanto medo?

Você nasceu sozinho e sozinho baixará à sepultura, não tem jeito...

Por que tanta aflição?

Aquela história de que é impossível ser feliz sozinho foi criada apenas para solucionar o verso daquele cantor, como é mesmo o nome dele?

Está triste? Passa. Até uva passa...

Dói? Dói muito, a dor que deveras sente, porque dor de coração dói na alma, no braço, no calcanhar, no queixo, dói tudo e mais um pouco, porque a dor da alma de verdade é aquela que você cultivou para ser a não-dor, para ser o não-fim, para ser a lindeza de um amor tranquilo, e quando desaba, sai debaixo...

Mas por que tanto desespero?

O vazio do peito cresce e abarca, entope de tanta ausência?

Fazer o quê, meu caro, se o amor que tu me tinhas era pouco e se acabou, não é?

Não?

Tem dúvidas?

E qual o amor que não resta dúvidas, qual o fim que deixa certezas, qual a vida que prescinde da morte e vice versa?

Olha, vai lá, sai pra rua, deixa pra trás essa poeira que, é bom que você saiba, nunca vai assentar, viu?

Levanta e anda, porque a paralisia só faz a dor doer ainda mais.

Corre, grita, arfa, xinga, morde e engole.

Pense em todas as besteiras que puder pensar, surte todos os surtos e suba e desça, encolha até virar uma fatia fininha de sentimento algum.

Porque a dor que deveras sente é a pior, meu amigo, a que mais dói.

A dor de quem fica enquanto o outro vai.

Ou dor de quem vai enquanto o outro fica.

Tanto faz.

Luiz Caversan é jornalista, produtor cultural e consultor na área de comunicação corporativa. Foi repórter especial, diretor da sucursal do Rio da Folha, editor dos cadernos Cotidiano, Ilustrada e Dinheiro, entre outros. Escreve aos sábados para a Folha Online.

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