Pensata

Sérgio Malbergier

24/07/2008

O silêncio dos publicitários

No nefasto pacto de silêncio que une empresas corruptoras e políticos corruptos na pilhagem do Estado, alguns maus publicitários são peça-chave. Marcos Valério e Duda Mendonça são os canos mais visíveis desse imenso duto subterrâneo ao qual CPIs e investigações policiais deram alguma publicidade.

Os publicitários brasileiros realizaram neste mês o IV Congresso Brasileiro de Publicidade, o primeiro do tipo em décadas, anunciado como fórum seminal do setor. Em meio a justos elogios ao papel da propaganda no sistema capitalista e justas críticas a ingerências do governo no setor, não se debateu o papel fundamental dos maus publicitários na corrupção degenerada que aprisiona o Brasil.

A agência de propaganda DNA de Marcos Valério recebeu muitos milhões das empresas de telefonia de Daniel Dantas e do Banco do Brasil e é acusado de, com esses recursos, irrigar o mensalão multipartidário. O publicitário mineiro nega.

Já Duda Mendonça disse, em 2005, ao vivo na TV brasileira, direto de uma CPI do Congresso, que recebera "por fora", no exterior, mais de R$ 10 milhões da campanha petista de 2002, ano da eleição de Lula. Uma vez no governo, petistas que comandam a Petrobras deram a Duda Mendonça milionários contratos publicitários da maior empresa do país.

Já em 2006, o multipartidário Duda foi acusado de corrupção pelo Ministério Público do Rio de Janeiro juntamente com o tucano Marcelo Alencar por desvios de dinheiro público supostamente cometidos na sua atuação como governador do Estado no já distante 1997.

Como ainda não foi julgado, seria injusto condenar Duda e não acreditar nas suas lágrimas na CPI. Assim, o genial marqueteiro, criador do Lula "paz e amor" que abriu as portas do Palácio do Planalto ao petista, vai dirigir a campanha do candidato Marcelo Crivella, favorito à Prefeitura do Rio, mesmo Estado onde o publicitário é acusado de desvio de verbas. Ah, e também fará a campanha de Paulo Maluf à Prefeitura de São Paulo.

O assumidíssimo financiamento ilegal de campanhas é um dos crimes fundadores da República, que torna a atividade política, no final das contas, uma atividade em grande medida criminosa já que bancada por caixa dois. As más empresas que destinam esses recursos milionários aos políticos certamente auferem lucro na operação.

Os bons publicitários, sempre muito falantes, farão ainda mais pelo país se nos próximos congressos do setor tratarem do tema.

Sérgio Malbergier é jornalista. Foi editor dos cadernos Dinheiro (2004-2010) e Mundo (2000-2004), correspondente em Londres (1994) e enviado especial da Folha a países como Iraque, Israel e Venezuela, entre outros. Dirigiu dois curta-metragens, "A Árvore" (1986) e "Carô no Inferno" (1987). Escreve para a Folha Online às quintas.

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