Pensata

Sérgio Malbergier

16/04/2009

A lição de Roosevelt que Lula não quer aprender

Formou-se uma tempestade perfeita sobre as contas públicas brasileiras.

A crise global que reergueu das cinzas o estatismo econômico e a difícil eleição presidencial em 2010 tornarão brutal o assalto lulo-petista aos recursos do Estado.

A névoa da crise, com as intervenções estatais lideradas por baluartes do liberalismo econômico como EUA e Reino Unido, confunde e serve de álibi ideal para quase toda extravagância com o dinheiro (do) público.

Assim, o governo Lula acaba de reduzir o já modesto rigor fiscal brasileiro, permitindo gastos adicionais de quase R$ 40 bi neste ano (do governo e da Petrobras) que antes seriam economizados para pagamento da dívida pública.

A crise é o álibi. E se de Londres a Washington, de Tóquio a Berlim, defende-se o gasto estatal contra a crise, não seríamos nós brasileiros a contestar este novo consenso.

Mas o problema é que o Estado brasileiro é muito pior que os Estados americano, britânico, japonês, alemão. Desde sempre, ele é essencialmente corrupto, gasta mal e é mal conduzido, uma inegável herança maldita da qual Lula nem tentou escapar.

Seu governo e o sempre afável Congresso penetraram fundo nos bolsos brasileiros ao aprovarem aumentos de salário ao funcionalismo que nos custarão ao menos R$ 17 bilhões neste ano (e nunca poderão ser revertidos).

Os gastos com a folha de pagamento foram os que mais cresceram no governo Lula no primeiro bimestre deste ano: estonteantes 25%. Isso num ano de crise e queda aguda da arrecadação, quando essa montanha mágica de dinheiro estaria muito melhor aplicada nas sempre empacadas obras de infraestrutura que poderiam empregar e dinamizar a economia.

Mas a prioridade do governo Lula é amaciar uma de suas grandes bases eleitorais (e fonte de renda via dízimos sobre o salário dos servidores filiados), como já havia feito na véspera das eleições de 2006.

O mesmo governo Lula que, por outro lado, não consegue tocar obras essenciais capazes de tornar o país mais competitivo, abrir mais mercados, gerar mais empregos, criar mais riquezas.

Mas que facilmente solta os gastos da Petrobras, presidida por um petista histórico com ambições políticas na Bahia, que também turbinou os gastos com funcionários e sofre denúncias (negadas, claro) de uso político de verbas para financiar festas de São João no interior baiano intermediadas por dirigente do PT estadual.

Temos ainda a troca de comando no Banco do Brasil, outro titã do estatismo nacional e das oportunidades eleitoreiras, presidido agora por executivo ligado ao PT. E as obras-promessas do PAC e seus contratos bilionários com as generosas empreiteiras.

Quantas oportunidades para o governo Lula gastar dinheiro e angariar aliados enquanto prepara a campanha de Dilma Roussef à Presidência e de outros petistas ao Congresso e governos estaduais nas cruciais eleições de 2010, aquelas que podem garantir 16 anos seguidos de poder nacional ao PT.

Franklin Delano Roosevelt, ícone do estatismo em voga, presidiu os EUA de 1933 a 1945 e tirou o país da depressão pós-crise de 1929.

Uma das chaves do sucesso de Roosevelt foi o combate severo à corrupção enquanto bombeava dinheiro público na veia da economia americana.

Roosevelt criou um escritório para combater a corrupção e fiscalizar com rigor as obras do New Deal, seu programa de estímulo econômico.

Apesar de obviamente indispensável neste país escandaloso, alguém espera atitude semelhante do presidente Lula?

Sérgio Malbergier é jornalista. Foi editor dos cadernos Dinheiro (2004-2010) e Mundo (2000-2004), correspondente em Londres (1994) e enviado especial da Folha a países como Iraque, Israel e Venezuela, entre outros. Dirigiu dois curta-metragens, "A Árvore" (1986) e "Carô no Inferno" (1987). Escreve para a Folha Online às quintas.

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