Pensata

Sérgio Malbergier

17/07/2009

A grande quadrilha

da Folha Online

O "varre, varre vassourinha / varre, varre a bandalheira / que o povo já tá cansado / de sofrer dessa maneira", imortal jingle de Maugeri Neto, fez horrores pela campanha presidencial de Jânio Quadros (embora não tenha feito nada contra a própria bandalheira).

A bandeira do combate à corrupção fica cada vez mais óbvia e popular com os novos capítulos da casa de ópera bufa brasileira também chamada de Senado Federal.

Que nenhum grande partido ou pré-candidato presidencial empunhe a bandeira (ou vassoura) da limpeza do atual sistema político mostra o quanto esse sistema é forte, abrangente e tende a se perpetuar no poder. Com ele demoramos muito mais a chegar onde podemos.

O duro e lento aprendizado sobre a necessidade de estabilidade econômica mostrou como sabemos perder tempo e desperdiçar anos. Só que hoje é a política, estúpido, não a economia, que atravanca o país. Com uma carga tributária que coloca 35% de tudo o que produzimos todo ano no triturador da máquina pública, essa máquina precisa funcionar bem.

O clã Sarney é exemplo perfeito de como ela funciona mal, dada a milhagem do senador maranhense (ou amapaense?), sua capilaridade com a máquina pública em múltiplas esferas, por décadas, e o estado mierável do seu Maranhão. Envolve ministérios, estatais, fundações, nepotismo, mordomias, banqueiros quebrados...

Assumindo a presidência do Senado, Sarney buscava justamente blindagem contra investigações da Polícia Federal que já deram no indiciamento de seu filho, Fernando, em suposto esquema no Ministério das Minas e Energia, controlado pelo patriarca do clã.

Seu controle das bilionárias Minas e Energia não foi nem é em nenhum momento colocado em questão apesar das denúncias gravíssimas já em investigação pela PF. O presidente Lula o prestigia sempre que pode.

Lula ainda abraça na mesma semana Collor e Renan em seus palanques alagoanos, prestigiando in loco esquemas nefastos de exploração da população brasileira. A política brasileira é assim. Vale tudo, e todo mundo faz com todo mundo.

O ministro logo da Justiça, Tarso Genro, disse outro dia: "É sabido que determinadas empresas colocam um adicional de preços nas licitações porque depois vão ter que financiar campanhas, seja legalmente, seja pelo caixa dois".

Ele não disse isso e mostrou provas ou iniciou investigação imdiata dada a gravidade do que já "é sabido". Nem o revelou numa conversa em off. Falou aos microfones, sem inibição, ao defender uma reforma política que incluísse financiamento público de campanha.

A tal "reforma política" virou só outra alteração casuística da legislação eleitoral para facilitar ainda mais operações já sabidas pelo tolerante ministro da Justiça.

E assim Sarney segue presidente do Senado brasileiro. Seu ministro segue comandando as Minas e Energia. Seu companheiro Renan segue dominando a Casa, apesar (ou por causa?) da ficha corrida. Colocou um folclórico senador biônico do PMDB-RJ, Paulo Duque, na presidência da comissão de ética para julgar o aliadíssimo Sarney, inocentando-o de antemão, enquanto a Câmara inocenta definitivamete o deputado do castelo que dava notas de suas próprias empresas para justificar gastos da verba oficial.

Há gente boa que defende esse jeito PMDB de ser. Um amigo brilhante economista diz que o partido de Sarney e Renan cobra, mas entrega as maiorias necessárias para a manutenção da estabilidade político-econômica no Brasil. Seria um mal necessário com custo-benefício favorável.

Discordo. Pode até ter servido para alguma coisa até algum momento da história. Não mais. O Brasil precisa amadurecer, superar essa dependência de políticos corruptos para ser governável. Precisamos avançar na política como avançamos na economia. O mundo acelera com novas tecnologias que apressam transformações. Nossa classe política parou no tempo. É preciso reformá-la, de fora para dentro provavelmente.

Como? é a pergunta ainda sem resposta. A mobilização de idéias e pessoas via internet é a melhor forma de buscá-la. Há o que fazer.

Sérgio Malbergier é jornalista. Foi editor dos cadernos Dinheiro (2004-2010) e Mundo (2000-2004), correspondente em Londres (1994) e enviado especial da Folha a países como Iraque, Israel e Venezuela, entre outros. Dirigiu dois curta-metragens, "A Árvore" (1986) e "Carô no Inferno" (1987). Escreve para a Folha Online às quintas.

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