Pensata

Sérgio Malbergier

06/08/2009

Sarneygate anima Serra

Se o Brasil já fosse sério, Paulo Duque (PMDB-RJ), segundo suplente de Sérgio Cabral, que nunca teve um voto, não seria o presidente da Comissão de Ética do Senado.

Se o Brasil já fosse sério, claro, José Sarney não seria o presidente do Senado.

Os profissionais da esculhambação do Brasil estão preocupados e disparam suas armas. Percebem que a revolta contra Sarney é uma revolta contra eles todos. Uma revolta contra o lado PMDB do brasileiro. Contra a impunidade. Contra esse sistema político cada vez mais podre e insuportável.

Sarney foi presidente, governador, deve ter a mais extensa ficha da política brasileira e um dos maiores patrimônios. O movimento contra (o que) Sarney (representa) pode até ser derrotado no Senado, mas leva uma vitória ao país: a indignação cresce, a internet a difunde e mobiliza. Esse arranjo político é tão velho e anacrônico que seu fim se impõe.

O governo Lula é o seu auge. Quando a esquerda virou direita, seduzida pelo dinheiro e pelo poder, nessa ordem. A renancalheirização final da política.

A ânsia lulista em viabilizar sua candidata e ter carta branca no final do mandato o levou aos braços de Collor, Renan e Sarney. Lula peemedebou. E pode arrastar o PT a um abraço de afogado.

Em 2010, o eleitor terá a primeira oportunidade de se manifestar sobre o Sarneygate e tudo o que ele representa. Alguns petistas já se assustam, especialmente em São Paulo.

Em 2006, o Brasil tinha cerca de 35 milhões de usuários de internet. Em 2008, 54 milhões. Em 2010, devem ser já metade do eleitorado. E mesmo com a nova lei eleitoral que quase a amordaçou, a web terá efeitos extraordinários e ainda desconhecidos nas próximas eleições (a vitória de Obama não deixa dúvidas).

Assim, o Sarneygate animou e energizou a furibunda oposição. Pesquisas estariam mostrando estagnação de Dilma Rousseff. Serra já não teria dúvidas. Nos Estados, petistas terão de explicar o silêncio sobre (o que) Sarney (representa).

Ironicamente, Sarney no cargo, apoiado por Paulo Duque, Renan Calheiros, Fernando Collor e Lula, deve ser melhor para a oposição do que ele deposto.

Não que a oposição seja melhor. As práticas eram as mesmas no governo anterior. O problema não é do governo, é do regime.

Serão mudanças enormes, talvez distantes, mas o ataque ao oligarca maranhense é um passo nessa estrada.

Sérgio Malbergier é jornalista. Foi editor dos cadernos Dinheiro (2004-2010) e Mundo (2000-2004), correspondente em Londres (1994) e enviado especial da Folha a países como Iraque, Israel e Venezuela, entre outros. Dirigiu dois curta-metragens, "A Árvore" (1986) e "Carô no Inferno" (1987). Escreve para a Folha Online às quintas.

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