Pensata

Sérgio Malbergier

22/10/2009

Lula, a falha do Brasil

Lula, já escrevi isso aqui, é o melhor presidente que o Brasil já teve. Fez a melhor ponte, mesmo precária, entre pobres e ricos e fechou o consenso em torno da estabilidade econômica e do respeito às regras básicas do jogo capitalista.

É esse consenso, iniciado em 1994 com o Plano Real, que permite ao país dar um salto econômico transformador.

Mas seu mandato ficará manchado pela cumplicidade com o que há de pior no Brasil, na política brasileira, a corrupção e a impunidade. E esse outro horripilante consenso fechado por Lula e seu PT, de que a corrupção desembestada deve ser tolerada em nome da tal governabilidade, é a maior trava para o desenvolvimento do país hoje.

Na entrevista que deu a Kennedy Alencar (que você pode ler a íntegra aqui), Lula mais uma vez faz de conta que não é com ele. Repete a ladainha, que ele sabe falsa, de que todos são inocentes até que sejam julgados em definitivo pela Justiça brasileira, aquela que não julga nada em definitivo. Mais: Lula defende uma visão equivocada de que, uma vez eleito, o político pode tudo, como se o voto desse licença e legitimidade para qualquer ato, mais espúrio que seja.

"Não adianta falar mal do Congresso, porque ele foi votado pelo povo", disse o petista ao ser indagado sobre seu apoio a Sarney, Renan, Collor etc.

"O cidadão que admira o Lula tem de saber que essas pessoas foram eleitas democraticamente, e o eleitor dessas pessoas é tão bom quanto ele", acrescentou.

É uma lógica torpe, cínica, querendo transferir a crítica que se faz aos piores políticos brasileiros (que o próprio Lula vivia atacando antes de ascender) aos pobres eleitores que votaram nesses supostos representantes.

O pior é que são esses pobres eleitores, em grande parte analfabetos ou semialfabetizados, os que mais sofrem com os líderes que elegem, por ignorância, pressão ou mesmo coerção econômica. Lula, filho do Brasil, sabe de tudo isso, mas é incapaz de outro gesto de grandeza: a de romper com a única coisa que não muda no Brasil, a péssima qualidade de nossa liderança política, o lado B de Lula incluído.

Sérgio Malbergier é jornalista. Foi editor dos cadernos Dinheiro (2004-2010) e Mundo (2000-2004), correspondente em Londres (1994) e enviado especial da Folha a países como Iraque, Israel e Venezuela, entre outros. Dirigiu dois curta-metragens, "A Árvore" (1986) e "Carô no Inferno" (1987). Escreve para a Folha Online às quintas.

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