Pensata

Sérgio Malbergier

17/12/2009

Economia eleitoral

Entre as ilusões mais propagadas pelo presidente Lula está a de que o Brasil foi um dos últimos países a entrar na crise e um dos primeiros a sair dela. Geralmente seguida pela falsa conclusão de que a economia brasileira é hoje uma das mais sólidas do planeta.

Primeiro, países como China, Índia Austrália, Coreia do Sul, Polônia e Indonésia, com quem deveríamos competir, sequer entraram em recessão.

A Austrália, inclusive, exportadora, como nós, de minérios e alimentos, nação responsável, governada pela centro-esquerda, com câmbio valorizado, já elevou juros no pós-crise.

Segundo, a noção de que nossa economia está melhor que outras quando temos pouca competição, pouca inovação, pouco investimento, pouco crédito, pouca e má distribuída riqueza se comparados a países de fato ricos e um dos piores ambientes de negócios do mundo (nossa carga tributária e nosso Judiciário são piadas de mau gosto) é só isso: ilusão.

A necessidade eleitoral e o tolo deslumbramento constroem um discurso ufanista, arrogante, irresponsável. E uma postura gastadora como se os bons ventos fossem perenes.

O Brasil desperdiçou séculos demais em seu lento desenvolvimento. Como notou com ao menos algum sarcasmo a revista "Economist" na notória capa do Cristo voador: o Brasil chegou onde está depois de ter cometido todos os erros possíveis. Não perdemos uma oportunidade de perder uma oportunidade.

E se finalmente arrancamos economicamente graças ao consenso (tão óbvio e tardio) FHC-Lula em torno das regras básicas do Estado de direito capitalista e à extraordinária conjuntura internacional pré-crise, o expansionismo irracional que o final do lulismo encerra é só isso: irracional.

Basta entrar dinheiro no caixa que ele precisa sair voando, em contratos bilionários com grandes empresas, aumentos bilionários ao funcionalismo e assistencialismo improdutivo. A crise dava uma explicação para a descambada. A crise acabou.

A concessão de favores tributários, regulatórios e creditícios ganha uma pressa injustificável, como se o mundo (ou o mandato) fosse acabar amanhã (ou no ano que vem).

Mas se o mandato vai de fato acabar em 2010, o Brasil seguirá, país do futuro, em busca de uma política mais racional, responsável, honesta.

O apressado come cru. Ou nem come.

Sérgio Malbergier é jornalista. Foi editor dos cadernos Dinheiro (2004-2010) e Mundo (2000-2004), correspondente em Londres (1994) e enviado especial da Folha a países como Iraque, Israel e Venezuela, entre outros. Dirigiu dois curta-metragens, "A Árvore" (1986) e "Carô no Inferno" (1987). Escreve para a Folha Online às quintas.

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