Pensata

Vinicius Mota

19/06/2005

Parlamento em baixa

A pesquisa Datafolha publicada na sexta-feira passada mostrou que a avaliação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva não sofreu um desgaste maior após as acusações sobre o "mensalão", tornadas públicas pelo deputado Roberto Jefferson. Também mostrou que Lula ainda seria capaz de derrotar todos os seus hipotéticos adversários em segundo turno caso a eleição fosse hoje, embora sua vantagem, em especial diante do prefeito de São Paulo, José Serra, tenha diminuído. Prefiro não opinar sobre o desenrolar desse cenário, pela distância que ainda há das eleições de outubro do ano que vem e pelo quadro de absoluta incerteza quanto ao futuro imediato na política nacional.

Mas o que mais me chamou a atenção nessa pesquisa, embora fosse um resultado bastante previsível, foi constatar o grau de degradação da imagem do Congresso Nacional diante da opinião pública. A fatia dos que avaliam o desempenho de seus representantes no Legislativo federal como ruim ou péssimo saltou seis pontos percentuais em apenas 15 dias e agora representa 42% da população. O índice de rechaço dos parlamentares está nos patamares mais altos da série do instituto de pesquisas e só perde para os 56% do período do chamado escândalo dos anões do Orçamento, em novembro de 1993.

O fator positivo dessa crescente aversão ao Parlamento é o de indicar aos parlamentares, sem margem a dúvida, que a população não tolera a leniência com os maus hábitos políticos, cujas entranhas têm sido pornograficamente expostas nestes dias. Os eleitores não esperam, a esse respeito, nada que não seja a identificação e a cassação dos que usam seu mandato indevidamente.

Mas é preciso cuidado para que uma indignação legítima não descambe para um niilismo do tipo "nenhum parlamentar presta", "que se vão todos". Daí até a máxima "O país viveria melhor com o Congresso fechado", é um pequeno passo.

O Parlamento é a alma da democracia; tem que ser preservado como instituição, custe o que custar. Deixar seu poder à míngua, ou extingui-lo, é lançar o país em aventuras autoritárias, sejam explícitas como uma ditadura, sejam implícitas.

O Congresso brasileiro não é o melhor do mundo. É pouco altivo e aparelhado para lidar com a máquina do Executivo. Mas já demonstrou no passado que, nos momentos em que sua credibilidade está em jogo, tem condições de tomar as medidas necessárias para se fortalecer novamente como instituição. Não tenho razão para duvidar de que fará isso novamente, mesmo diante de um quadro como o atual, que exige cortes profundos na própria carne .

UM PEDIDO DE AJUDA AO LEITOR

Diante da incerteza radical na política nacional, gostaria de colher dos leitores desta coluna a sua avaliação sobre alguns aspectos da crise. Aos que fizerem a gentileza de responder a uma ou mais dentre as questões abaixo, ou de fazer outros comentários sobre o assunto, vão os meus mais sinceros agradecimentos. Peço também aos que escreverem que deixem claro se posso publicar suas mensagens, bem como seus nomes, neste espaço. Aí vão as indagações:

1. O deputado Roberto Jefferson é convincente nas suas denúncias? Por quê?
2. Você está convencido de que o ex-ministro José Dirceu está envolvido em esquemas de corrupção? Como justifica a resposta?
3. Qual é a principal motivação da crise?
4. A crise vai afetar o projeto de reeleição de Lula? Por quê?
Vinicius Mota, 33, é editor de Opinião da Folha (coordenador dos editoriais). Foi também editor do caderno Mundo e secretário-assistente de Redação da Folha. Escreve para a Folha Online aos domingos.

E-mail: vinicius.mota@folha.com.br

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