Pensata

Vinicius Mota

07/05/2006

Notas bolivianas

A Bolívia tem a população comparável à da cidade de São Paulo e o PIB compatível com o da Região Metropolitana de Campinas;




Tudo o que interessa ao Brasil na Bolívia é o gás natural. O resto, inclusive os negócios da Petrobras no país andino, está em segundo plano. Apenas com o que lucrou no quarto trimestre de 2005, a estatal brasileira pagaria duas vezes o que investiu em solo boliviano e ainda sobraria troco; o que lucrou no ano passado inteiro supera um PIB boliviano;




Acorrer às reservas de gás bolivianas foi uma opção estratégica sensata de sucessivos governos brasileiros. Não há economia com escala comparável à brasileira na região para absorver a segunda maior reserva do subcontinente. O gás tem aplicações industriais vantajosas, polui pouco e pode ser a tábua de salvação em momentos de baixa oferta de energia elétrica. O erro foi descuidar do investimento em novas hidroelétricas no Brasil;




Se não quiser entrar de novo na zona vermelha do apagão, no curto prazo o Brasil tem poucas opções para deixar de investir na ampliação do gasoduto Brasil-Bolívia. É claro que tudo vai depender do preço do combustível boliviano;




A nacionalização ruidosa é a principal estratégia de Evo Morales para obter farta maioria na Assembléia Constituinte (a eleição é em 2 de julho). Obtida a meta, assistiremos ao início de sua "revolução", da qual a nacionalização dos hidrocarbonetos foi apenas o prelúdio. O projeto é permanência máxima no poder, muito Estado e pouca oposição, e o modelo é o de Hugo Chávez;




A festa do "revival" nacionalista na Bolívia, desta vez com tez indígena, dura enquanto permanecerem nas alturas os preços mundiais da energia. Com o dinheiro jorrando nos cofres públicos e a pressão por gastos em toda parte para atender sua base social emergente, o "evismo" dispensará a confecção de mecanismos à chilena de ajuste a tempos de vacas magras.




P.S.: Como o leitor da coluna da semana passada percebeu, Deus não quis e eu não escrevi a seqüência do argumento sobre o "Opus Dei". Mas voltarei ao tema.
Vinicius Mota, 33, é editor de Opinião da Folha (coordenador dos editoriais). Foi também editor do caderno Mundo e secretário-assistente de Redação da Folha. Escreve para a Folha Online aos domingos.

E-mail: vinicius.mota@folha.com.br

Leia as colunas anteriores

//-->

FolhaShop

Digite produto
ou marca