Pensata

Vinicius Mota

15/05/2006

A pane e o pânico

O pânico da população paulistana nesta segunda-feira foi a contraface da pane que tomou de assalto as comunicações do tucano-pefelismo que gere a crise do PCC no Estado de São Paulo. Cláudio Lembo tinha se portado bem nos primeiros momentos da catarse. O tom sóbrio das suas primeiras declarações ajudou a combater os surtos de histeria que acontecimentos como esse, quanto mais quando são inéditos, despertam. Surtos que só complicam ainda mais uma situação delicada.

Mas Lembo sumiu ao longo do dia na segunda-feira. Sua assessoria foi incapaz de montar uma estratégia --simples-- para mantê-lo na crista do noticiário, "brifando" (no jargão jornalístico) a todo momento a imprensa e a população, na condição de chefe das forças de segurança do Estado.

O roteiro de crises desse porte é conhecido e está estabelecido internacionalmente: o governante fala o tempo todo (basta chamar TVs e rádios e falar); transmite reiteradamente confiança à população; louva o trabalho da polícia e lamenta os agentes mortos; desmente boatos; e, o principal, exorta as pessoas a não alterarem sua rotina, o comércio a não fechar suas portas, as escolas a manter sua programação habitual.

Mas o que se viu ontem foi uma onda de boatos sem o menor fundamento se espalhar ao vivo pelas TVs e pela internet sem que a autoridade máxima do Estado se prontificasse a desmenti-los. Falou-se em toque de recolher, o que demandaria a decretação de estado de sítio, autorizada pelo Congresso Nacional!

Desorientadas e em pânico, as pessoas levaram a termo um "toque de recolher" caótico, submetendo-se a mais perigos no trânsito engarrafado do que se ficassem onde estavam. Escolas cancelaram aulas, não só na segunda-feira mas também na terça-feira, sem a menor razão objetiva. A palavra do governador no momento certo conteria esse surto de irracionalidade.

Apenas no final da tarde o comandante da PM chamou a imprensa e fez o que o governador deveria ter feito. Mas o estrago estava feito; o trânsito, engarrafado; as aulas, suspensas; o comércio, fechado; as pessoas, em pânico. Ponto para os bandidos. Como Bin Laden ganhou de bônus o desmoronamento das Torres Gêmeas (esperava "apenas" a destruição parcial dos prédios), o PCC foi brindado com a fuga em massa dos paulistanos, sinal de descrença na autoridade pública.

Em crises como a que São Paulo atravessa, não há terceira opção aos governantes: ou se destacam, elevando-se à categoria de estadistas, ou submergem. Rudolph Giuliani, na Nova York pós-11 de Setembro, e Ken Livingstone, na Londres pós-7 de Julho, saíram maiores do que entraram. Os pefelistas Cláudio Lembo e Gilberto Kassab, que nutrem o projeto de emancipar seu partido no Estado, ainda estão devendo. Como a crise não acabou, eles ainda têm chances de recuperação.
Vinicius Mota, 33, é editor de Opinião da Folha (coordenador dos editoriais). Foi também editor do caderno Mundo e secretário-assistente de Redação da Folha. Escreve para a Folha Online aos domingos.

E-mail: vinicius.mota@folha.com.br

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