Pensata

Eduardo Ohata

15/04/2006

J Russell Peltz brasileiro

J Russell Peltz é um dos matchmakers (aquele que é responsável por "casar" os lutadores nas programações) de maior prestígio nos EUA.
Ele começou a carreira de promotor de lutas, que o levou ao Hall da Fama do boxe, quando tinha vinte e poucos anos, o que lhe valeu o apelido de "The Boy Promoter".

Mas não foi exatamente pela precocidade que Peltz ficou conhecido.

Foi sua habilidade em promover "casamentos" muito bons, sempre com um estilo complementando o do outro (por exemplo, o matchmaker que colocar um contra-golpeador contra outro está pedindo uma péssima luta). E o nível de habilidade dos pugilistas geralmente era bastante parelho.

Às vezes Peltz, cuja base fica na Philadelphia, caprichava tanto que não era raro os lutadores "da casa", seus próprios pupilos, perderem.
Com esse tipo de atuação, Peltz construiu seu maior patrimônio. Não eram seus atletas, ou sua firma de promoção de lutas. Seu maior patrimônio é seu nome. Por isso mesmo, Peltz é sinônimo de lutas bem casadas. Tanto que quando a ESPN lançou há alguns anos a série semanal "Friday Nights Fights" (e a irmã "Wednesday Fight Nights"), chamaram Peltz. Por coincidência, Peltz um dos auxiliares de Arthur Pelullo, o promotor de Popó e Sertão.

Pela luta "amistosa" que Servílio de Oliveira, manager de Sertão, arrumou para o pupilo no último fim de semana, contra o russo Yuri Romanovich, guardadas as devidas proporções, ele está merecendo o título de "Russell Peltz brasileiro".

Servílio não gostou quando disse isso para ele. Ficou bravo ao ser comparado com uma pessoa que levava adversários para "matar" seus próprios pugilistas. Mas a qualidade de sua programação é inquestionável.

Para começar, o russo (sim, russo, foi ele mesmo que confirmou sua nacionalidade) Romanovich chegou ao Brasil cheio de personalidade, principalmente por ter perdido recentemente apenas por pontos para o ranqueado Janos Nagy em seu último combate, e deu bastante trabalho ao Sertão. Claro, para uma defesa de título a exigência seria maior, mas para uma luta "amistosa" estava acima da média, tanto que provocou a ira de Pelullo, que estava preocupado com a luta do brasileiro de 13 de maio, em Boston (EUA). Na minha contagem, o baiano venceu por oito pontos, mas foram vantagens pequenas em cada assalto.

A luta, aliás, foi mais difícil do que aquela na qual Sertão ganhou o título em janeiro passado (naquela ocasião, o adversário não fora selecionado por Servílio). Outra coisa positiva foi que as dependência do Instituto Municipal de Ensino Superior (São Caetando do Sul) estavam lotadas, o que é muito bom para os olhos da audiência que acompanhou a luta pela TV. Não foi difícil, pois a entrada foi grátis. Ainda assim, foi uma boa jogada para a TV, o que nem todos promotores conseguem fazer com competência (ao contrário, isso não é comum da parte de muitos auto-denominados "promotores" brasileiros).

Assim, querendo ou não, termino essa coluna insistindo que, ao menos por agora, Servílio faz juz ao apelido de J Russell Peltz brasileiro.
Eduardo Ohata, 34, é jornalista do caderno Esporte da Folha e comentarista da ESPN. É colunista de boxe há mais de 10 anos. Escreve para a Folha Online, quinzenalmente, aos sábados.

E-mail: eohata@folhasp.com.br

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