Pensata

Sylvia Colombo

29/12/2006

Esther Williams

Quer uma sugestão de filme que combine com esse calorão?

Pois acaba de sair um DVD que tem tudo a ver com a temperatura desse verão, ou pelo menos com a sua vontade de passar algum tempo com a cabeça metida debaixo de alguma cachoeira. Trata-se do duplo "Meu Coração tem Dono" ("The Duchess of Idaho")/"Numa Ilha com Você" ("On an Island With You"), ambos estrelando a atriz-nadadora norte-americana Esther Williams.

Dizer que os dois filmes são datados seria um caridoso eufemismo. Difícil acreditar que tenham sido "bons" mesmo em seu tempo, a virada dos anos 40 para os 50. Naquela época, entretanto, romances musicais açucarados --além de previsíveis e de roteiros muitos parecidos uns com os outros-- eram o grande sucesso da indústria hollywoodiana. E os de Esther Williams tinham um elemento original a ser adicionado a essa mistura. Eles se passavam sempre em torno de... piscinas, praias ou tanques exageradamente decorados. Isso mesmo, eram os coloridos "water movies", produções de humor involuntário que transformaram Williams em ícone tanto de jovens atrizes como de nadadoras-mirins pelos EUA afora.

Divulgação
A atriz e nadadora Esther Williams foi estrela dos "water movies"
A atriz e nadadora Esther Williams foi estrela dos "water movies"
Williams foi, na adolescência, uma revelação na natação na Califórnia. Venceu torneios importantes e estava na lista das que integrariam a seleção norte-americana nos jogos olímpicos de 1940 caso estes não fossem cancelados por causa da Segunda Guerra Mundial. Frustradas suas ambições esportivas, ela literalmente mergulhou na carreira artística.

Primeiro realizando espetáculos ao vivo com o também ator e nadador Johnny Weismuller (que depois viraria o Tarzã daquele grito comprido). Depois, no cinema mesmo, em filmes como "Bathing Beauty" (1944), "Million Dollar Mermaid" (1952) ou "Dangerous When Wet" (1953) que traziam a bela protagonista sempre como uma disputada --e muitas vezes oferecida-- presa dos desejos masculinos. As ações se passavam geralmente em locais de veraneio, hotéis ou ilhas. Manipuladora e exibida, ela desfilava seu belo corpo em acrobacias, cantava ao mesmo tempo em que dava braçadas longas e "sensuais" além de, muitas vezes, dar um verdadeiro caldo ou jogar para o fundo da piscina algum "pretê" mais atirado. Em menos de uma década, Williams esteve em 26 filmes e tornou-se um dos rostos mais conhecidos de Hollywood.

É claro que era difícil imaginar que os tais "water movies" teriam algum futuro. Não havia mais por onde evoluir nem como "linguagem" nem como produto. A presença obrigatória de uma piscina ou de um tanque e personagens e tramas que se relacionassem a eles limitava os roteiros (é lógico, alguém podia ter pensado em elaborar a partir daí algumas tramas de terror, mas não era essa a idéia, tudo tinha de ser romântico, leve e divertido). Williams, então, resolveu tentar ser uma atriz dramática apenas. Só que, sem o atrativo de seus coloridos e justos maiôs decotados, obviamente não emplacou. No começo dos anos 60, acabou afastando-se das telas, enquanto na vida pessoal uma série de divórcios, problemas com álcool e crises depressivas foram se seguindo.

Ainda naquela década, aconselhada pelo amigo e também ator, Cary Grant, começou a fazer um tratamento psiquiátrico contra a depressão baseado no consumo dirigido de LSD.

Hoje reclusa, aos 83 anos, Williams vive com seu quarto marido e quase nunca dá as caras para a as câmeras. À alegria e a comicidade dos enredos fúteis e divertidos dos filmes em que atuava seguiu-se um silêncio misterioso e um tanto triste. Não se sabe se está curada nem se continua dando suas braçadas, seja cantando, seja em silêncio.

De todo modo, o registro está em filmes como os desse DVD, para quem quiser vê-la e conhecê-la.

Para bater palmas

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Clap Your Hands Say Yeah tem músicas novas
Clap Your Hands Say Yeah tem músicas novas
O ano que está estourando por aí já na semana que vem tem pelo menos uma boa notícia para o mundo pop. Chega ao mercado... Melhor, chega à rede antes de chegar ao mercado, o novo disco do Clap Your Hands Say Yeah. A banda nova-iorquina que estourou em 2005 justamente por causa do boca-a-boca na internet antes mesmo de lançar seu primeiro CD (o ótimo e homônimo "Clap Your Hands Say Yeah") continua sem medo da web e já está jogando nela algumas faixas de "Some Loud Thunder" (www.clapyourhandssayyeah.com). A partir de 16 de janeiro, já será possível fazer o download do disco todo.

As músicas que se podem ouvir (também no Myspace), "Satan Said Dance" e "Underwater You and Me" vão na mesma onda do CD anterior, um pouco mais dançantes, mas com as mesmas repetições de linhas melódicas, ambientação meio hippie e os vocais derramados de Alec Ounsworth.

No fim do mês, o disco propriamente dito sai lá fora. Vale a pena ficar ligado.

Bom 2007 e até lá!
Sylvia Colombo, 35, é repórter da Ilustrada, onde escreve sobre livros, cinema e música. Formada em história pela USP e jornalismo pela PUC-SP, foi editora de Especiais, Folhateen e Folhinha, e correspondente em Londres. Escreve às sextas.

E-mail: scolombo@folhasp.com.br

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