Pensata

Valdo Cruz

21/11/2006

O inimigo mora em casa

De terceiro turno a propostas de governo de coalizão. O clima mudou para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Antes das eleições, tucanos e pefelistas não se cansavam de repetir: Lula pode até ser reeleito, mas não toma posse no segundo mandato. Se tomar, renuncia. Se não renunciar, sofre impeachment.

Passada a eleição, ninguém mais fala em impeachment. Dirigentes da OAB dizem que isso é coisa do passado, que agora é mirar à frente. Já tem até tucano pegando carona no Aerolula, aquele que Geraldo Alckmin prometeu vender se fosse eleito presidente da República.

O senador Arthur Virgílio (PSDB-AM) aceitou o convite do presidente e embarcou no avião presidencial de Mato Grosso do Sul para Brasília, depois de participar do velório do senador Ramez Tebet (PMDB-MS). O tucano diz que achou o presidente mais maduro.

E o que parecia impossível começa a ganhar contornos de realidade: um PMDB praticamente unido apoiar Lula em seu segundo mandato.

Se tudo parece que vai dar certo, alguém tem de atrapalhar. Quem? O PT, claro, que ensaia disputar a presidência da Câmara e resiste a entregar fatias de seu espaço no governo aos aliados.

Não só isso. Não quer ouvir falar em medidas que possam representar cortes de despesas _nada de redução de ministérios, nada de reforma da Previdência. Quando chegar o momento de redefinir o espaço no segundo escalão, então, a gritaria vai ser geral.

Em outras palavras, o principal inimigo do petista Luiz Inácio Lula da Silva pode continuar sendo o PT, tal como ocorreu no primeiro mandato.

Membros do partido protagonizaram os principais escândalos, como o famoso mensalão. A diferença, confidenciam amigos do presidente, é que agora ele não estaria mais disposto a ficar refém do partido. A conferir.




O impossível

Lula sonha com o impossível ao pregar o crescimento de 5% da economia no próximo ano. Na melhor das hipóteses chega a 4%. A não ser que baixe um santo populista no petista e ele solte as rédeas da economia.

Não é o cenário mais provável. Até aqui, ele demonstrou ser um conservador em termos de economia. Não quer perder o controle sobre a inflação, um de seus cabos eleitorais na campanha da reeleição.

Apesar do sonho impossível, Lula trilha um caminho correto ao exigir de sua equipe econômica medidas efetivas para fazer o país crescer. Algo que deveria ter feito há muito tempo. Acordou agora. Antes tarde do que nunca. Pena que isso custou alguns pontos no crescimento do país.

O problema é que muito se ouviu de que Lula quer medidas para incentivar as empresas a investir, como o corte de impostos de novos investimentos produtivos. Seria bom ouvir de sua boca firmeza idêntica no combate ao crescente gasto público.




2010

Aécio Neves quer iniciar seu segundo mandato sem continuísmo. Diz que vai implantar uma segunda geração do seu choque de gestão. Quer fugir da regra geral de que o segundo mandato sempre é pior do que o primeiro. Sabe que isso é fundamental para seu futuro.

Ele evita comentar o tema agora, mas a partir de 2008, pós-eleição municipal, seu nome estará definitivamente no tabuleiro presidencial.

Um de seus cartões de visita será sua administração à frente do governo de Minas. Seu estilo de governar, por sinal, já está servindo para atrair futuros aliados, como o governador eleito do Rio, Sergio Cabral (PMDB-RJ).

Aécio quer estabelecer uma parceria com Cabral, desenvolvendo projetos conjuntos, como na área de segurança, além de ajudá-lo com sua experiência na área de gestão.

Conquistar o apoio do Rio é fundamental para o mineiro sonhar com a Presidência. Aécio ficaria forte no segundo e terceiro colégios eleitorais do país _Minas e Rio.




Gerdau

Jorge Gerdau, no mínimo, será um conselheiro informal do presidente Lula. Foi o que prometeu na última conversa que tiveram, em Brasília, na semana passada. Nesse caso, poderia fazer reuniões semanais com o presidente para falar do que mais lhe atrai no momento: técnicas de gestão para modernizar o Estado.




Na moita

Na semana passada, uma entidade procurou um ministro. Informou que estava solicitando audiência com o presidente Lula para reivindicar sua permanência no segundo mandato. O ministro nem pensou duas vezes. Disse nem pensar. Passaria a imagem de que o organizador do pedido era ele mesmo, o que contaria pontos contra. A entidade desistiu na hora. Em tempo: o ministro faz parte do grupo que deve ficar no governo.
Valdo Cruz Valdo Cruz, 46, é repórter especial da Folha. Foi diretor-executivo da Sucursal de Brasília durante os dois mandatos de FHC e no primeiro de Lula. Ocupou a secretaria de redação da sucursal e atuou como repórter de economia. Escreve às terças.

E-mail: valdo@folhasp.com.br

Leia as colunas anteriores

//-->

FolhaShop

Digite produto
ou marca