Pensata

Valdo Cruz

10/04/2007

O que mudou ou o que vai mudar

O risco Brasil despenca e o dólar caminha para valer menos do que R$ 2. Até bem pouco tempo, um cenário como esse serviria para que gente do próprio governo desferisse publicamente uma saraivada de críticas contra a política monetária do Banco Central. Coisa do tipo: "Por causa do excesso de conservadorismo do BC, o dólar está cada vez mais depreciado e isso vai afetar a indústria brasileira, ajudando a reduzir o crescimento do PIB brasileiro e aumentar o desemprego em alguns setores". Agora, publicamente, de parte do próprio governo, não se ouve uma única crítica.

Daí que não custa perguntar: Afinal, o que mudou ou o que vai mudar? Será que o governo já aceita pacificamente o que o mercado já prevê para os próximos dias, um dólar valendo menos do que R$ 2, algo impensável alguns meses atrás? Ou teremos algumas surpresas nas próximas semanas por parte do Banco Central, com a volta dos cortes de juros de 0,50 ponto percentual?

O fato é que o último a fazer críticas públicas à política monetária foi posto para fora do governo. O economista Júlio Sérgio Gomes de Almeida perdeu o comando da Secretaria de Política Econômica do Ministério da Fazenda depois de alardear que cresce no governo a tese de que o dólar baixo é um "problema bom". Ligado ao setor industrial --foi economista do Iedi (Instituto de Estudos para Desenvolvimento Industrial)--, Gomes de Almeida atacou dizendo que é um "problema ruim", fruto da maior taxa de juros do planeta. Perdeu o emprego.

O curioso é, com algumas variações, esse tipo de crítica saía facilmente da boca do ministro Guido Mantega (Fazenda). O ministro, porém, tem adotado nas últimas semanas um tom diplomático em relação ao presidente do Banco Central, Henrique Meirelles. Tem feito questão de elogiar a política monetária do BC. Segue, assim, uma determinação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de que ele e Meirelles devem evitar disputas públicas pelos rumos da política econômica de seu governo. A dúvida é se as críticas, reservadamente, continuam a ser feitas. Ou, depois da saída do diretor Afonso Bevilaqua do Banco Central, algo mudou na relação entre os dois capaz de criar uma parceria totalmente inimaginável até pouco tempo atrás.

Dependesse apenas do Banco Central, a saída seria abrir mais a economia brasileira, forçar um aumento das importações e, com isso, fazer o valor do dólar subir por conta da maior procura no mercado pela moeda norte-americana. De quebra, um aperto maior no controle dos gastos públicos. Só que o próprio BC sabe que esse receituário não vinga nesse governo. Mantega tem insistido que não há razão para uma nova rodada de abertura da economia. Segundo ele, o dólar baixo já está fazendo esse serviço.

Dependesse apenas do Ministério da Fazenda, o BC aceleraria a queda dos juros, retomando os cortes de 0,50 ponto percentual. Espaço para esse movimento começa a existir. O dólar continua caindo, a inflação está baixa, o risco Brasil em queda, o cenário internacional permanece favorável. Mas há sempre o risco de acelerar novamente a redução dos juros e, depois, ser obrigado a brecar o processo. Seria péssimo. Por que não cortar 0,30 ponto percentual, 0,35, para demonstrar um pouco mais de ousadia? O negócio é esperar e conferir os próximos lances desse jogo.




Qual é o risco mais alto?

No feriado da Semana Santa, receoso com as últimas cenas de caos nos aeroportos, viajei de Brasília para Belo Horizonte de carro. Sinceramente, depois da viagem, fiquei pensando: Será que é melhor sujeitar-se à longa espera nos aeroportos a ter de enfrentar cenas de barbárie nas estradas? Talvez sim. As rodovias estavam lotadas. Mais de uma vez tive de reduzir a velocidade para evitar uma colisão com um motorista irresponsável fazendo uma ultrapassagem num local proibido e sem visibilidade. Em uma ocasião, não houvesse um bom acostamento, na melhor das hipóteses estaria redigindo esse artigo de um hospital. E para quê? Para reduzir o tempo de viagem em dez, quinze, vinte ou trinta minutos? Esses motoristas não param para raciocionar. Em tempos de feriado, quando você vai chegando ao seu destino, o movimento aumenta mais ainda. Aí, o que acontece? O carro que você deixou para trás encosta novamente por causa do trânsito mais lento. Um sinal de total falta de civilidade. Não foi por outro motivo que o número de mortes nas estradas durante o feriado só fez aumentar.
Valdo Cruz Valdo Cruz, 46, é repórter especial da Folha. Foi diretor-executivo da Sucursal de Brasília durante os dois mandatos de FHC e no primeiro de Lula. Ocupou a secretaria de redação da sucursal e atuou como repórter de economia. Escreve às terças.

E-mail: valdo@folhasp.com.br

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