Pensata

Valdo Cruz

17/04/2007

Nem o tímido pode vingar

Ao ser lançado, o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) foi elogiado por priorizar o investimento em infra-estrutura, mas bastante criticado na parte fiscal, classificada de muito tímida por gente de dentro e de fora do governo. Pois bem, até o que foi considerado tímido pode não vingar nas votações dos projetos do PAC enviados ao Congresso.

Reservadamente, o que se ouve de líderes governistas e da oposição é que dificilmente passa na Câmara e no Senado o projeto que põe um freio nos gastos com pessoal de Executivo, Legislativo e Judiciário.

Até agora o projeto está praticamente paralisado na Câmara. Não tem nem relatório para ser votado. O Palácio do Planalto promete um esforço concentrado nessa semana para encerrar as votações de medidas provisórias e projetos do PAC, mas há quem diga que o projeto sobre os gastos com pessoal não desperta tanta paixão assim dentro do governo. A conferir.

Se realmente cair no esquecimento, será um retrocesso. Todas as projeções sobre gastos com funcionalismo apontam para a necessidade de reverter o crescimento desse tipo de despesa observado nos últimos anos, principalmente no Legislativo e no Judiciário.

Os riscos e benefícios da PF na Infraero

Lula mandou a Polícia Federal investigar as atividades da Infraero, a estatal que administra os aeroportos do país e que ficou bastante popular, no mau sentido, depois das últimas cenas de caos aéreo. Uma decisão, tomada na semana passada, que envolve riscos e benefícios. Primeiro, as vantagens que podem ser auferidas pelo Palácio do Planalto com essa operação: o governo pode esvaziar uma futura CPI do Apagão Aéreo e debelar, se for o caso, um possível foco de corrupção numa área vital para a economia do país.

Agora, os riscos que o governo pode enfrentar com os policiais no encalço da estatal: depois de iniciada uma investigação pela PF, caso ela tome rumos indesejáveis para o presidente de plantão, fica praticamente impossível controlá-la. É comum o governo perder o controle desse tipo de operação. Ganha vida própria.

Quem ouviu do presidente Lula a ordem diz que ele não está preocupado com esse tipo de risco. Sua determinação é uma investigação rigorosa. Se atingir algum integrante ou ex-integrante graúdo do governo, o presidente teria dito, segundo relatos passados à Folha, que ninguém deve ser poupado.

Lula teria garantido também que uma CPI do Apagão Aéreo não o preocupa. Não é bem assim. Se realmente não o preocupasse, não teria, nos bastidores, determinado uma estratégia para brecar pelo menos o funcionamento de uma similar no Senado, já que a da Câmara é vista como inevitável.

O fato é que, com CPI e com PF, a população só tem a ganhar. No mínimo o governo passa a tratar como prioridade algo que vinha sendo relegado a segundo plano desde o ano passado: o controle do tráfego aéreo no país.

BNDES, a indefinição

Lula ainda não definiu quem será o próximo presidente do BNDES. Dá sinais de conduzir o processo no mesmo estilo do primeiro mandato. Promete ao titular do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior autoridade sobre o banco, mas acaba não acatando suas sugestões. Foi assim com Luiz Fernando Furlan. Pode se repetir com Miguel Jorge.

Quem conhece o novo ministro do Desenvolvimento de perto aposta que dificilmente ele aceitaria uma solução desse tipo. Pode até não conseguir emplacar o seu preferido, o ex-Santander Gustavo Murgel, mas fará o que for possível para nomear alguém de sua confiança.

Murgel foi devidamente fritado pela ala que defende a manutenção de Demian Fiocca. Só que desde o ano passado o próprio presidente Lula confidenciou a aliados que Fiocca não ficaria à frente do banco. O petista, porém, não quer dar uma guinada no BNDES. Prefere alguém que mantenha a linha desenvolvimentista do banco. A definição pode acontecer ainda nessa semana, mas Lula, todos sabem, detesta decidir sob pressão. Waldir Pires que o diga --e agradeça, porque vai ficando no Ministério da Defesa.

Políticos, porém técnicos

Por falar em BNDES, o presidente Lula já orientou a seus auxiliares que para os bancos federais pode até haver indicação política, mas o nome terá de ter um perfil técnico. Nada de acomodar em instituições como Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal e o próprio BNDES políticos aposentados. Taí uma promessa, feita reservadamente, a ser checada depois que as indicações forem feitas.
Valdo Cruz Valdo Cruz, 46, é repórter especial da Folha. Foi diretor-executivo da Sucursal de Brasília durante os dois mandatos de FHC e no primeiro de Lula. Ocupou a secretaria de redação da sucursal e atuou como repórter de economia. Escreve às terças.

E-mail: valdo@folhasp.com.br

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