Pensata

Valdo Cruz

28/11/2006

A volta da bolha?

Empresários e o mercado financeiro acompanham com atenção o pacote em gestação pelo governo Lula para tentar o que, no momento, é considerado quase impossível: um crescimento da economia de 5% no próximo ano. Por sinal, com atenção e, principalmente, preocupação. Sem falar numa certa dose de pessimismo.

Motivo: até aqui, na avaliação de quem toca o país e de quem fatura no mercado, praticamente nada se ouviu do governo Lula em relação a temas que vão garantir, de forma sustentada, um crescimento econômico elevado.

O que empresários e mercado gostariam de ouvir é uma definição mais clara sobre medidas para acelerar as concessões públicas, mais liberdade e menos controle sobre as agências reguladoras e aprovação do marco regulatório do setor de saneamento.

Além, óbvio, de um plano duro de ajuste fiscal, que envolvesse reformas da Previdência, administrativa e tributária. Medidas que sinalizassem, no médio e longo prazos, um declínio dos gastos públicos, levando a um superávit nominal ao final do segundo mandato do presidente Lula.

Essa avaliação não significa que esses grupos estejam totalmente insatisfeitos com as medidas em estudo pela equipe econômica. Aplaudem, já que é reivindicação do setor empresarial, as promessas de corte de impostos, principalmente os voltados para aliviar custos de novos projetos.

Comemoram o aumento de investimentos do governo em infra-estrutura. Significam mais obras e menos gargalos no futuro para as empresas. Até aí, tudo bem. O problema é que tudo isso não está acompanhado da contrapartida: corte de gastos para viabilizar o aumento dos investimentos e regras claras para estimular empresários a investir.

Daí o pessimismo de gente do mercado. A avaliação é que o governo está focado em medidas tópicas, que podem gerar uma bolha de crescimento no próximo ano, mas que estouraria facilmente diante da falta de ações em busca de um quadro sustentável na economia.

Tudo perdido? Não chegamos a esse ponto. Ainda é cedo para dizer se realmente o governo Lula vai reduzir seu rigor fiscal. E, se for reduzi-lo, em que intensidade.

Pode ser uma pequena diminuição do superávit primário, hoje em 4,25% do PIB, que poderia ser compensada no médio prazo com redução de outras despesas, como da conta de juros. Aí, em dando certo as medidas para acelerar investimentos no país, o governo Lula estaria no caminho certo.

Mas, se o superávit cair abaixo dos 4% do PIB, como alguns integrantes do governo chegam a defender, estará armado um cenário perigoso. O país pode até crescer nos próximos dois anos, mas depois o governo Lula poderia viver um final agonizante. Os tucanos adorariam, os petistas odiariam, nós sofreríamos. E como.




Juros


O Banco Central define amanhã a nova taxa de juros. Deve ficar dentro da previsão do mercado: redução de 0,50 ponto percentual, colocando a taxa selic em 13,25%. Confirmada a queda, os juros reais ficariam na casa dos 8,8%, ainda os maiores do planeta, mas sem dúvida um patamar muito mais propício para incentivar o crescimento do país.

Confirmada, será a 12ª queda consecutiva das taxas de juros. Mesmo assim, teremos nesse ano um crescimento medíocre da economia brasileira, na casa dos 3% do PIB. Por quê?

As respostas variam de acordo com o cliente. Há quem diga, no governo, que o BC foi conservador demais, aplicou uma dose excessiva, tanto que a inflação fechará o ano em torno de 3%, abaixo da meta de 4,5% para esse ano. Há quem diga que faltaram regras claras para o setor empresarial investir, ineficiência governamental para destravar projetos e muita gastança pública em ano eleitoral. Acho que os dois lados têm razão.
Valdo Cruz Valdo Cruz, 46, é repórter especial da Folha. Foi diretor-executivo da Sucursal de Brasília durante os dois mandatos de FHC e no primeiro de Lula. Ocupou a secretaria de redação da sucursal e atuou como repórter de economia. Escreve às terças.

E-mail: valdo@folhasp.com.br

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