Carlos Heitor Cony
03/06/2003
Mas estranho a insistência com que recebo, duas, três vezes ao dia, a sugestão para aumentar o tamanho e a largura do pênis. São diversos métodos, todos testados cientificamente, e que poderiam, em poucas semanas, me dar 3 ou mais centímetros de comprimento e outros tantos de largura.
Se topasse seguir os processos que me recomendam, eu seria um superdotado, com um equipamento de alguns metros de tamanho e a circunferência de um CD. Deveria ser exposto numa feira de amostras ou num museu de raridades.
Acontece que, apesar de não ser nenhum fenômeno, dou-me bem com o que disponho, nada especial nem fora de série, mas cumpridor de seus deveres --o que é mais importante.
Outro dia, reclamei das dietas para emagrecimento que a mídia semanalmente divulga. Dieta dos astronautas, da Lua, dos Vigilantes do Peso, dos Pontos, dos carboidratos, de Deus e do Diabo. Se seguisse algumas delas, ortodoxamente, já teria sumido do mapa, ficaria tão magro que deixaria de ter volume e peso, seria um ectoplasma, flutuando no ar, fiapo diáfano e desgarrado de uma nuvem.
Não sei como esses anúncios vem parar no meu computador. Alguma mulher que provou e não gostou? Em geral, elas sempre gostaram, mais até do que eu esperava. Para minhas modestas necessidades, estou satisfeito com o que a natureza me deu. Se precisasse corrigir alguma coisa em mim, eu me corrigiria todo, dos pés à cabeça, mas sobretudo na alma, inquieta como sempre e insatisfeita como nunca.
O superdotado
Deus é testemunha que, sem admirar demasiadamente os apelos publicitários e dificilmente segui-los, nada tenho contra os conselhos que me são dados, o melhor carro que está à minha disposição, o melhor sistema de antivírus no computador, a melhor estréia teatral de um grupo amador que se dedica ao teatro de Ibsen.Mas estranho a insistência com que recebo, duas, três vezes ao dia, a sugestão para aumentar o tamanho e a largura do pênis. São diversos métodos, todos testados cientificamente, e que poderiam, em poucas semanas, me dar 3 ou mais centímetros de comprimento e outros tantos de largura.
Se topasse seguir os processos que me recomendam, eu seria um superdotado, com um equipamento de alguns metros de tamanho e a circunferência de um CD. Deveria ser exposto numa feira de amostras ou num museu de raridades.
Acontece que, apesar de não ser nenhum fenômeno, dou-me bem com o que disponho, nada especial nem fora de série, mas cumpridor de seus deveres --o que é mais importante.
Outro dia, reclamei das dietas para emagrecimento que a mídia semanalmente divulga. Dieta dos astronautas, da Lua, dos Vigilantes do Peso, dos Pontos, dos carboidratos, de Deus e do Diabo. Se seguisse algumas delas, ortodoxamente, já teria sumido do mapa, ficaria tão magro que deixaria de ter volume e peso, seria um ectoplasma, flutuando no ar, fiapo diáfano e desgarrado de uma nuvem.
Não sei como esses anúncios vem parar no meu computador. Alguma mulher que provou e não gostou? Em geral, elas sempre gostaram, mais até do que eu esperava. Para minhas modestas necessidades, estou satisfeito com o que a natureza me deu. Se precisasse corrigir alguma coisa em mim, eu me corrigiria todo, dos pés à cabeça, mas sobretudo na alma, inquieta como sempre e insatisfeita como nunca.
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Carlos Heitor Cony, 80, é membro do Conselho Editorial da Folha. Romancista e cronista, Cony foi eleito para a Academia Brasileira de Letras em 2000. Escreve para a Folha Online às terças. E-mail: cony@uol.com.br |
