Pensata

Carlos Heitor Cony

16/09/2003

Trabalhadores lá e cá

Semana passada, escrevi na página 2 da Folha uma crônica sobre o receio que toma conta do funcionalismo em geral a respeito da "carteirinha do partido". Quem não tiver o documento, pode tirar o cavalo da chuva. Não varrerá uma rua, não servirá um café numa repartição pública

Alguns leitores me mandaram e-mails perguntando se eu estava associando o PT aos regimes nazista e comunista, que também adotavam este tipo de carteirinha. Minha resposta é: não. Não, exatamente. As diferenças entre petistas, nazistas e comunistas são de fundo e, algumas vezes de forma. Mas há coincidências que podem preocupar aqueles que projetam o nosso futuro imediato.

Uma delas é a questão dos nomes. Só para dar um exemplo. O partido do qual se originou o nazismo chamava-se Partido dos Trabalhadores Alemães, fundado em maio de 1919, logo após a derrota da Alemanha na 1ª Guerra Mundial. A ele se filiou um cabo do Exército chamado Adolf Hitler, que recebeu o número 555, sendo portanto um dos primeiros membros de um partido que teria milhões de filiados. Logo em seguida, o sócio 555 foi eleito presidente do partido e já em 1920, no ano seguinte, mudou o nome da agremiação para o definitivo Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães. A sigla "nazi" nasceu do caráter nacional socialista da turma que adotou a suástica como emblema.

Lembro esses detalhes mais ou menos por espírito de porco, do qual sou generosamente dotado pela natureza. Nem Lula nem o PT têm qualquer semelhança ou coincidência com o nazismo. Pelo contrário. Mas não custa exorcizar a coincidência dos nomes enquanto é tempo.
Carlos Heitor Cony, 80, é membro do Conselho Editorial da Folha. Romancista e cronista, Cony foi eleito para a Academia Brasileira de Letras em 2000. Escreve para a Folha Online às terças.

E-mail: cony@uol.com.br

Leia as colunas anteriores

//-->

FolhaShop

Digite produto
ou marca