Carlos Heitor Cony
17/02/2004
Paralela à tradição hoteleira, o Glória tem sido local para manifestações públicas, em parte porque ali se realizam conferências nacionais e internacionais, em parte porque ali tem sempre alguém importante que merece ser aplaudido ou vaiado.
Semana passada, o PT comemorou seu aniversário de fundação e embora tenha sido criado em Diadema, preferiu o Glória como locação mais nobre e de maior visibilidade.
Descontentes com a linha do partido, reforçados por descontentes gerais, criaram confusão, polícia e povo mais uma vez se defrontaram, não houve vítimas fatais nem era para haver. O que houve bastou: o PT deixou de agradar a muitos petistas e antigos aliados.
Em 1965, durante o regime militar, por ocasião de uma assembléia da Organização dos Estados Americanos (OEA), houve também uma manifestação pedindo liberdade e justiça. Não havia muita gente, somente nove gatos pingados, que foram presos e ameaçados de confinamento em Fernando Noronha.
Fiz parte desses gatos pingados, ao lado de Antônio Callado, Márcio Moreira Alves, Glauber Rocha, Joaquim Pedro de Andrade, Flávio Rangel, Thiago de Mello, Mário Carneiro e Jaime Azevedo Rodrigues, que deixou a embaixada da ONU para ser preso conosco.
Aqui no Brasil, a imprensa foi lacônica no noticiário, limitou-se a dizer que nós estávamos impedindo o trânsito dos carros oficiais que traziam o presidente, marechal Castelo Branco, e os chanceleres das três Américas.
Mas um jornal argentino deu na manchete: "Patearam el mariscal" ("Vaiaram o marechal"). Para mim bastou isso para ter valido a pena.
Vaiaram o marechal
É um hotel tradicional, imponente, de estilo europeu, bem situado, onde se hospedaram presidentes da República (quase todos), artistas como Maria Callas, Ava Gardner, um prédio todo branco, como aquele hotel de Rimini que aparece no "Amacord" de Fellini.Paralela à tradição hoteleira, o Glória tem sido local para manifestações públicas, em parte porque ali se realizam conferências nacionais e internacionais, em parte porque ali tem sempre alguém importante que merece ser aplaudido ou vaiado.
Semana passada, o PT comemorou seu aniversário de fundação e embora tenha sido criado em Diadema, preferiu o Glória como locação mais nobre e de maior visibilidade.
Descontentes com a linha do partido, reforçados por descontentes gerais, criaram confusão, polícia e povo mais uma vez se defrontaram, não houve vítimas fatais nem era para haver. O que houve bastou: o PT deixou de agradar a muitos petistas e antigos aliados.
Em 1965, durante o regime militar, por ocasião de uma assembléia da Organização dos Estados Americanos (OEA), houve também uma manifestação pedindo liberdade e justiça. Não havia muita gente, somente nove gatos pingados, que foram presos e ameaçados de confinamento em Fernando Noronha.
Fiz parte desses gatos pingados, ao lado de Antônio Callado, Márcio Moreira Alves, Glauber Rocha, Joaquim Pedro de Andrade, Flávio Rangel, Thiago de Mello, Mário Carneiro e Jaime Azevedo Rodrigues, que deixou a embaixada da ONU para ser preso conosco.
Aqui no Brasil, a imprensa foi lacônica no noticiário, limitou-se a dizer que nós estávamos impedindo o trânsito dos carros oficiais que traziam o presidente, marechal Castelo Branco, e os chanceleres das três Américas.
Mas um jornal argentino deu na manchete: "Patearam el mariscal" ("Vaiaram o marechal"). Para mim bastou isso para ter valido a pena.
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Carlos Heitor Cony, 80, é membro do Conselho Editorial da Folha. Romancista e cronista, Cony foi eleito para a Academia Brasileira de Letras em 2000. Escreve para a Folha Online às terças. E-mail: cony@uol.com.br |
