Carlos Heitor Cony
20/04/2004
Nada teria contra se a estrela que lá botaram fosse de metal, de plástico, fosse mesmo de rubis, que também são vermelhos. Mas usar flores ou plantas para lhes dar uma forma, um sentido qualquer, é desfigurar a planta ou a flor.
Houve tempo, que felizmente saiu de moda, em que a cafonice dos jardineiros e paisagistas podavam certas plantas, dando-lhes a forma de animais. No Rio de Janeiro, a praça Paris exibia elefantes, cavalos, sereias e borboletas, diversos outros animais feitos de plantas simetricamente dispostas em torno dos jardins.
Como tudo de bom e de ruim vinha mesmo de fora, a mania de dar forma às plantas e flores era a modernidade que copiávamos da vulgaridade universal. Em cidades históricas, espalhadas pelo mundo, há relógios feitos de flores, poluindo gramados e jardins públicos. Turistas de mau gosto fazem questão de serem fotografados junto dessas aberrações.
Nunca aceitei integralmente os princípios paisagísticos do nosso Burle Marx. Acho que a birra que nutria pela cor não se justificava, seus jardins são monotonamente verdes. Mas ele tinha razão em detestar qualquer tipo de vegetação que não obedecesse à natureza bravia, respeitava a linha natural de cada planta ou árvore, tirando monumentais efeitos de nossa flora.
Uma estrela feita de flores nem chega a ser flor nem estrela: é apenas uma cafonice.
A estrela vermelha
Invocaram com a estrela vermelha feita de flores que colocaram no jardim do palácio presidencial. Feita de sálvias, a estrela é símbolo e logotipo do partido que está atualmente no poder. Não é justo --dizem-- marcar o chão neutro do Alvorada, que em tese pertence a todos nós, independentemente dos partidos, com a estrela vermelha que tem em si uma mensagem partidária, não importa se boa ou má.Nada teria contra se a estrela que lá botaram fosse de metal, de plástico, fosse mesmo de rubis, que também são vermelhos. Mas usar flores ou plantas para lhes dar uma forma, um sentido qualquer, é desfigurar a planta ou a flor.
Houve tempo, que felizmente saiu de moda, em que a cafonice dos jardineiros e paisagistas podavam certas plantas, dando-lhes a forma de animais. No Rio de Janeiro, a praça Paris exibia elefantes, cavalos, sereias e borboletas, diversos outros animais feitos de plantas simetricamente dispostas em torno dos jardins.
Como tudo de bom e de ruim vinha mesmo de fora, a mania de dar forma às plantas e flores era a modernidade que copiávamos da vulgaridade universal. Em cidades históricas, espalhadas pelo mundo, há relógios feitos de flores, poluindo gramados e jardins públicos. Turistas de mau gosto fazem questão de serem fotografados junto dessas aberrações.
Nunca aceitei integralmente os princípios paisagísticos do nosso Burle Marx. Acho que a birra que nutria pela cor não se justificava, seus jardins são monotonamente verdes. Mas ele tinha razão em detestar qualquer tipo de vegetação que não obedecesse à natureza bravia, respeitava a linha natural de cada planta ou árvore, tirando monumentais efeitos de nossa flora.
Uma estrela feita de flores nem chega a ser flor nem estrela: é apenas uma cafonice.
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Carlos Heitor Cony, 80, é membro do Conselho Editorial da Folha. Romancista e cronista, Cony foi eleito para a Academia Brasileira de Letras em 2000. Escreve para a Folha Online às terças. E-mail: cony@uol.com.br |
