Carlos Heitor Cony
11/05/2004
Contudo, é lícita, e até mesmo indispensável, uma reflexão paralela. Tudo o que veio à tona na semana passada sobre as contas Maluf no exterior constitui material relativamente antigo, que vem rolando desde 2001, com ofícios e relatórios de bancos suíços e investigações policiais em diversos países do mundo.
Acontece que apesar de tantas acusações, Maluf desponta novamente nas pesquisas para a próxima eleição de prefeito da capital paulista. Seu eleitorado permanece estável, continua acreditando na sua eficiência administrativa, sem dar importância à probidade de suas realizações. Ou acredita que tudo não passa de uma armação colossal para derrotá-lo, inicialmente nas pesquisas, posteriormente na eleição municipal deste ano.
Uma coisa parece não ter nada a ver com outra, mas cabe a reflexão: se há tanta e tamanha certeza de que Maluf desviou dinheiro público para suas contas no exterior, por que a mídia só se manifesta quando seu nome reaparece como forte candidato ao cargo mais importante da eleição de outubro?
O peso das provas contra a sua probidade é devastador. Mas por que sua honestidade pessoal só é questionada em períodos eleitorais? Se as autoridades da Interpol, da Receita Federal e da Polícia Federal possuem tanta certeza de corrupção, por que não atuaram à medida em que as contas eram movimentadas e ficava provada a incompatibilidade jurídica e policial de Maluf com a função pública?
As provas contra Maluf
São impressionantes as provas recentemente divulgadas sobre as contas de Paulo Maluf no exterior. A menos que seja provada uma maquinação infernal contra o ex-prefeito paulista, tudo leva a crer que as provas são tais e tantas que fica difícil a qualquer advogado provar a inocência dele.Contudo, é lícita, e até mesmo indispensável, uma reflexão paralela. Tudo o que veio à tona na semana passada sobre as contas Maluf no exterior constitui material relativamente antigo, que vem rolando desde 2001, com ofícios e relatórios de bancos suíços e investigações policiais em diversos países do mundo.
Acontece que apesar de tantas acusações, Maluf desponta novamente nas pesquisas para a próxima eleição de prefeito da capital paulista. Seu eleitorado permanece estável, continua acreditando na sua eficiência administrativa, sem dar importância à probidade de suas realizações. Ou acredita que tudo não passa de uma armação colossal para derrotá-lo, inicialmente nas pesquisas, posteriormente na eleição municipal deste ano.
Uma coisa parece não ter nada a ver com outra, mas cabe a reflexão: se há tanta e tamanha certeza de que Maluf desviou dinheiro público para suas contas no exterior, por que a mídia só se manifesta quando seu nome reaparece como forte candidato ao cargo mais importante da eleição de outubro?
O peso das provas contra a sua probidade é devastador. Mas por que sua honestidade pessoal só é questionada em períodos eleitorais? Se as autoridades da Interpol, da Receita Federal e da Polícia Federal possuem tanta certeza de corrupção, por que não atuaram à medida em que as contas eram movimentadas e ficava provada a incompatibilidade jurídica e policial de Maluf com a função pública?
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Carlos Heitor Cony, 80, é membro do Conselho Editorial da Folha. Romancista e cronista, Cony foi eleito para a Academia Brasileira de Letras em 2000. Escreve para a Folha Online às terças. E-mail: cony@uol.com.br |
