Carlos Heitor Cony
08/06/2004
É sempre uma lição de humildade quando um profissional, por férias, doença ou morte, deixa de assinar o ponto, seja na repartição, no ofício, na vida. Tudo continua como antes, mesmo sem ele, principalmente sem ele. Ninguém faz falta neste mundo, nem no outro, citarei de memória uma das melhores frases de Machado de Assis, tudo é escrito com tinta invisível no nada, tanto neste mundo, como certamente, no outro.
Mesmo assim, as coisas acontecem e ficam parecendo importantes. Semana passada, o George W. Bush visitou o papa e deu-lhe um presente, a condecoração mais alta que o Estados Unidos concedem a uma personalidade. O papa agradeceu, passou a comenda a um cardeal e reclamou: "O presente que eu queria receber do senhor era a paz".
Ronald Reagan morreu, Paulo Salim Maluf, declarado morto e sepultado cada vez que perde eleição e seu sigilo bancário, continua dono de seu eleitorado cativo que acreditando ou não em sua inocência, faz dele a cara de São Paulo, conforme revelou pesquisa do Datafolha.
Acharam uma menina que tem a cara da Ana Paula Arósio, se não é um efeito especial de computador, é mesmo de admirar, como o próprio Brasil, no samba do Ary Barroso.
Coisas assim parecem confirmar o que Machado de Assis dizia. Foram ditas e escritas com tinta invisível, sobre o nada. Tudo continuará como antes, independemente do papa, do Bush, de todos nós e, sobretudo, de mim, pecador.
Tudo no mesmo
Depois de breve e luminoso exílio, ao contrário daquele longo e tenebroso inverno do sovadíssimo soneto do Luiz Guimarães, eis-me de volta ao modesto espaço eletrônico que ajudo a poluir, sempre com algum remorso, o mesmo que sinto quando dou partida no carro, liberando gases tóxicos, acho que monóxido de carbono, ou soprando a perfumada fumaça do meu Partagas que o amigo Miro nunca deixa de me abastecer.É sempre uma lição de humildade quando um profissional, por férias, doença ou morte, deixa de assinar o ponto, seja na repartição, no ofício, na vida. Tudo continua como antes, mesmo sem ele, principalmente sem ele. Ninguém faz falta neste mundo, nem no outro, citarei de memória uma das melhores frases de Machado de Assis, tudo é escrito com tinta invisível no nada, tanto neste mundo, como certamente, no outro.
Mesmo assim, as coisas acontecem e ficam parecendo importantes. Semana passada, o George W. Bush visitou o papa e deu-lhe um presente, a condecoração mais alta que o Estados Unidos concedem a uma personalidade. O papa agradeceu, passou a comenda a um cardeal e reclamou: "O presente que eu queria receber do senhor era a paz".
Ronald Reagan morreu, Paulo Salim Maluf, declarado morto e sepultado cada vez que perde eleição e seu sigilo bancário, continua dono de seu eleitorado cativo que acreditando ou não em sua inocência, faz dele a cara de São Paulo, conforme revelou pesquisa do Datafolha.
Acharam uma menina que tem a cara da Ana Paula Arósio, se não é um efeito especial de computador, é mesmo de admirar, como o próprio Brasil, no samba do Ary Barroso.
Coisas assim parecem confirmar o que Machado de Assis dizia. Foram ditas e escritas com tinta invisível, sobre o nada. Tudo continuará como antes, independemente do papa, do Bush, de todos nós e, sobretudo, de mim, pecador.
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Carlos Heitor Cony, 80, é membro do Conselho Editorial da Folha. Romancista e cronista, Cony foi eleito para a Academia Brasileira de Letras em 2000. Escreve para a Folha Online às terças. E-mail: cony@uol.com.br |
