Carlos Heitor Cony
22/06/2004
Sem conflitos na entranhas do partido, sua incontestável liderança partidária há muito teria sumido pelo ralo. Apoiado em sua biografia, ele conseguiu durante anos ser a voz decisiva para as controvérsias ao longo de sucessivos momentos de verdade criados para o PT.
Assumindo o governo, Lula e o partido continuaram os mesmos, mas em pólos diferentes. As crises internas --que continuam a explodir-- passaram a segundo plano diante da urgência dos problemas da equipe governamental.
As duas correntes abertas em sua equipe mais próxima, certamente a mais importante em termos políticos, coloca Lula mais uma vez como o oráculo, o pajé, o fiel da balança, de cuja força magnética sairá o raio que fulminará os contendores, um ou outro, ou os dois simultaneamente.
Tudo leva a crer que a situação criada entre Dirceu e Rebelo nada tenha a ver com uma pérfida tática política de Lula. Mas enquanto perdurar a crise, com episódios que poderão crescer até o confronto, é certo que Lula se abrigará num providencial guarda-chuva aberto para protegê-lo.
No caso da derrota da última semana, por exemplo, a respeito do novo salário mínimo, a responsabilidade está sendo atribuída às desavenças entre seus dois principais articuladores políticos. Embora o próprio Lula tenha se empenhado pessoalmente na cabala de votos favoráveis à sua proposta, seus apologistas garantem que não foi ele o derrotado, mas o governo.
A culpa e a desculpa
A briga que se desenrola nos intestinos do governo, sobretudo entre os ministros José Dirceu e Aldo Rebelo, não foi criada pelo presidente mas o beneficia dentro da velha regra do dividir para imperar. Aliás, a carreira de Lula tem dois aspectos: o de líder popular para efeito externo e o de moderador das crises internas do PT.Sem conflitos na entranhas do partido, sua incontestável liderança partidária há muito teria sumido pelo ralo. Apoiado em sua biografia, ele conseguiu durante anos ser a voz decisiva para as controvérsias ao longo de sucessivos momentos de verdade criados para o PT.
Assumindo o governo, Lula e o partido continuaram os mesmos, mas em pólos diferentes. As crises internas --que continuam a explodir-- passaram a segundo plano diante da urgência dos problemas da equipe governamental.
As duas correntes abertas em sua equipe mais próxima, certamente a mais importante em termos políticos, coloca Lula mais uma vez como o oráculo, o pajé, o fiel da balança, de cuja força magnética sairá o raio que fulminará os contendores, um ou outro, ou os dois simultaneamente.
Tudo leva a crer que a situação criada entre Dirceu e Rebelo nada tenha a ver com uma pérfida tática política de Lula. Mas enquanto perdurar a crise, com episódios que poderão crescer até o confronto, é certo que Lula se abrigará num providencial guarda-chuva aberto para protegê-lo.
No caso da derrota da última semana, por exemplo, a respeito do novo salário mínimo, a responsabilidade está sendo atribuída às desavenças entre seus dois principais articuladores políticos. Embora o próprio Lula tenha se empenhado pessoalmente na cabala de votos favoráveis à sua proposta, seus apologistas garantem que não foi ele o derrotado, mas o governo.
Carlos Heitor Cony, 80, é membro do Conselho Editorial da Folha. Romancista e cronista, Cony foi eleito para a Academia Brasileira de Letras em 2000. Escreve para a Folha Online às terças. E-mail: cony@uol.com.br |