Pensata

Carlos Heitor Cony

17/08/2004

Super-homens

Bonito, para não dizer belíssimo, o espetáculo de abertura das Olimpíadas de Atenas. Passando por cima dos detalhes visuais e da expectativa técnica dos recordes a serem batidos, fico admirado com as possibilidades que a cada torneio olímpico são abertas para os atletas de cada geração.

Lembro dois casos. O de Jesse Owens, que foi a sensação de Berlim, em 1936, obrigando Hitler a abandonar o estádio para não cumprimentar um negro americano que ganhara cinco medalhas de ouro em cima do pessoal ariano. Os índices de cada modalidade seriam, hoje, ridículos. No salto tríplice, por exemplo, a marca de Owens foi superada em muito por Ademar Ferreira da Silva e João do Pulo. Os dois, por sinal, já estão superados na mesma modalidade.

E há o caso de Johnny Westmuller, que mais tarde seria o mais famoso Tarzan do cinema. Seus recordes nas piscinas, que o consagraram, não fariam dele um nadador do São Cristóvão, do Guanabara aqui do Rio.

Até mesmo no futebol, a velocidade e o fôlego dos jogadores aumentam a cada temporada. A seleção de 1970, por exemplo, que nos deu o tricampeonato, seria hoje desclassificada nas eliminatórias, não por falta do talento de Pelé, Tostão, Gérson, Rivelino, Jairzinho e outros, mas pela condição técnica que faz hoje a bola rolar mais depressa.

A pergunta que se pode fazer é: onde vamos parar? Um atleta de salto com vara sobe hoje quase um metro a mais do que um o mesmo concorrente de 30 anos atrás. Onde ficam os limites humanos? A capacidade técnica e os recursos científicos dos treinos estarão criando uma geração de super-homens?
Carlos Heitor Cony, 80, é membro do Conselho Editorial da Folha. Romancista e cronista, Cony foi eleito para a Academia Brasileira de Letras em 2000. Escreve para a Folha Online às terças.

E-mail: cony@uol.com.br

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