Pensata

Carlos Heitor Cony

21/09/2004

O Diabo no espaço

Não foi um sonho, muito menos uma visão. Mas consta que um astronauta, numa dessas naves tripuladas que passeiam pelo espaço, enquanto seus colegas, obedecendo aos horários da base de Houston, dormiam em complicados leitos, montava guarda na cabine de comando e viu o Diabo, em passeio, sem ajuda de qualquer equipamento, apenas com seus chifres, rabo e pés fendidos, caminhando pelo cosmos, aparentemente procurando alguma coisa.

Sabendo que o Pai das Trevas, desde o início do mundo domina uma boa tecnologia, o astronauta tentou comunicar-se com ele. Para sua surpresa, o Diabo entrou na faixa sonora da cabine e os dois conversaram. O diálogo está nos arquivos secretos da Nasa, esperando hora propícia para divulgação.

Após considerações gerais sobre os destinos da humanidade, o astronauta quis saber do destino do próprio Diabo, o que fazia ele ali sozinho, aparentemente perdido no espaço, desorientado e deprimido. Apesar de ser considerado o inventor da Mentira, o Diabo falou a verdade. Estava deixando o planeta Terra onde, desde a revolta dos anjos, antes da criação do Mundo, decidira implantar o Mal e a Desgraça na obra de Deus.

O astronauta quis saber a razão de tão humilhante retirada. Seria um derrota diante das forças do Bem? Nada disso - informou o Diabo. Ele ia embora da Terra porque sua atividade tornara-se supérflua com o advento da Internet. Procurava agora um planeta em estágio tecnológico menos adiantado do que o nosso, sem um tipo de comunicação onde qualquer um pode fazer um estrago bem maior do que ele na comunidade internacional e na vida de cada um.
Carlos Heitor Cony, 80, é membro do Conselho Editorial da Folha. Romancista e cronista, Cony foi eleito para a Academia Brasileira de Letras em 2000. Escreve para a Folha Online às terças.

E-mail: cony@uol.com.br

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