Pensata

Carlos Heitor Cony

23/11/2004

Corredor polonês

Não se trata daquele corredor que Hitler ambicionava para a Alemanha nazista, atravessando o território da Polônia. Antes disso, nos setores da repressão policial, formava-se uma fila dupla de monstros e obrigava-se o prisioneiro a passar pelo meio, levando porrada dos dois lados.

Com menos violência, nas escolas de antigamente imitava-se por molecagem o mesmo processo, pegava-se um novato que fizera alguma coisa de errado ou de ridículo, formava-se a fila dupla de veteranos, a vítima era obrigada a atravessar o corredor recebendo cascudos, em geral moderados.

É deste que estou lembrando. Temos, aqui no Rio, dois corredores tamanho-família, as linhas Vermelha e Amarela, que dão saída e acesso à cidade.

Somos obrigados a atravessá-los, e os turistas que nos visitam também: são os acessos preferenciais do aeroporto do Galeão. Passar por elas, sobretudo à noite, equivale a uma roleta russa em dois corredores poloneses letais.

Tanto a Linha Amarela como a Vermelha cortam diversas favelas onde, ao lado da população ordeira, abrigam-se gangues de marginais e traficantes, que nem precisam pular um muro ou uma vala para invadirem as pistas. E os bandidos sabem que por ali passam turistas e passageiros com dólares e euros, souvenirs de viagem etc.

É uma tentação, facilitada pela impossibilidade de um policiamento em toda a extensão das duas vias. Para um leigo como eu, a solução seria um muro alto e instransponível, isolando as linhas de seus entornos, quase um túnel a céu aberto. Uma obra muito cara, mas por enquanto, a única hipótese de segurança total para todos nós.
Carlos Heitor Cony, 80, é membro do Conselho Editorial da Folha. Romancista e cronista, Cony foi eleito para a Academia Brasileira de Letras em 2000. Escreve para a Folha Online às terças.

E-mail: cony@uol.com.br

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